Tratamento para usuários de cocaína: ponto de vista do usuário1
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Tratamento para usuários de cocaína: ponto de vista do usuário1
Cocaine use treatment from the client point of view
Cleusa P. Ferri
As estimativas sobre o uso de drogas na população geral variam muito. Isto se deve às diferentes metodologias utilizadas nas pesquisas, à faixa etária estudada, às substancias incluídas e, principalmente, à particularidades de cada cultura estudada. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se (O’Brien, 1996) que mais de 23 milhões de americanos tenham usado cocaína pelo menos uma vez na vida, que o número de usuários ocasionais caiu de cerca de 2,9 milhões em 1988 para 1,3 milhão em 1992 e que o número daqueles que usam cocaína freqüentemente (pelo menos uma vez por semana) permaneceu mais ou menos constante desde 1991 (cerca de 640 mil pessoas). Enquanto o uso de cocaína parece ser menos prevalente na Europa do que nos EUA, na América do Sul é um problema importante e crescente, particularmente em países produtores de cocaína como a Colômbia, o Peru e a Bolívia (Negrete, 1992). No Brasil, o consumo de cocaína é um comportamento antigo, cujo uso era restrito à alta camada social no início do século, principalmente do Rio de Janeiro e São Paulo, passando a ser usada por diversos grupos sociais nas últimas décadas (Carlini, 1993).
Um estudo epidemiológico de âmbito nacional sobre o uso de droga na população geral não foi realizado no Brasil; neste sentido, não existem dados disponíveis sobre o consumo de cocaína quer na população como um todo, quer em subgrupos como sexo, classe sócio-economica, ocupação, religião, etc. Levantamentos epidemiológicos feitos pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotropicas (CEBRID) EM 1987, 1989, 1993 e 1997, realizado em populações especificas de estudantes e meninos de rua, mostram que as drogas mais utilizadas por adolescentes, além do álcool e do tabaco, são os solventes e sedativos (Galduroz et al., 1997 e Noto et al., 1998). Embora estes levantamentos mostrem baixa prevalência do
uso de cocaína entre estudantes (as taxas mais altas de uso atual estão por volta de 2,5%); eles também mostram um aumento do consumo nos últimos anos, o que é corroborado por outros indicadores, como o aumento gradativo das internações hospitalares por cocaína no período 1987-1993 (Noto, 1995) e aumento da procura de tratamento por usuários de crack (Ferri, 1997).