Cocaína: bases biológicas da administração, abstinência e tratamento
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Cocaína: bases biológicas da administração, abstinência e tratamento
Marcelo Ribeiro de Araujo , Ronaldo Laranjeira, John Dunn
O aumento do consumo de cocaína nas últimas duas décadas foi acompanhado por uma melhora do conhecimento dos mecanismos biológicos relacionados ao uso, abuso e dependência desta droga. Entender esses mecanismos ajudará o clínico a compreender os comportamentos e sintomas dos usuários, bem como as possibilidades de tratamentos biológicos existentes. Os objetivos desta revisão são: 1. Avaliar a neurobiologia da cocaína, as alterações que provoca nos usos agudo e crônico, os possíveis mecanismos de dependência e da síndrome de abstinência, além das repercussões neuroendócrinas do uso crônico. 2. Relacionar a farmacoterapia disponível, avaliando sua eficácia a partir de estudos já realizados e apontar novos estudos em andamento.
Introdução
A cocaína, alcalóide extraído das folhas da Erythroxylon coca há mais de um século, é uma das substâncias mais interessantes e intrigantes da história na Medicina. Apesar de sua prevalência apresentar-se pequena em comparação ao álcool1, atinge estatísticas de epidemia2 em vários países. A National Household Survey on Drug Abuse estimou que 4,5 milhões de norte-americanos haviam feito algum uso de cocaína em 19922.
Nos E.U.A. pode-se considerar que teve duas epidemias no século XX. A primeira ocorreu no início do século e foi controlada com uma série de medidas, dentre elas a própria proibição da cocaína (Federal Harrison Narcotics Act, 1914)3. Até então era legalmente usada, mesmo em bebidas como a Coca-Cola. A segunda epidemia do uso nos anos setenta, atingiu seu pico em meados dos anos oitenta3. O perfil elitizado de usuários expandiu-se para todas as camadas sociais, tendo em vista o aumento da produção e o aparecimento de apresentações mais baratas, como o crack.