O Brasil em Risco?

20 de janeiro de 20218min16
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Por Marcos L Susskind*

Há alguns dias eu li algo que pode perfeitamente ser adaptado ao Brasil. Trata-se do motivo que não se coloca os Dez Mandamentos nas sedes políticas da nação. Afinal, causaria tremendo rebuliço escrever nos prédios públicos: Não Roubarás, Não cometerás adultério e principalmente Não darás falso testemunho. Imagine estas normas em locais cheios de políticos, juízes e advogados!

Ironias à parte, este artigo se baseia no que escreveu Evan Andrews em 2014 e que é – infelizmente – atual para o Brasil. Andrews analisava os motivos para a derrocada de Roma, o maior império da antiguidade, que abarcava toda a Europa, a Ásia, todo o Norte da África e o Oriente Médio sob jugo Romano. Lembremo-nos que o final da hegemonia Romana se deu quando o sistema imperial provou ser incapaz de manter a paz e a ordem internas, e Roma não podia mais manter aquelas instituições e políticas das quais dependiam a unidade, segurança e prosperidade das terras mediterrâneas. Isto lembra por acaso o Brasil de 2021? A paz e a ordem internas vão se dilacerando com antagonismos incríveis entre governadores e governo central; a segurança interna é discutível, com medo presente entre todos os cidadãos, o desemprego e a quebra de empresas corroendo a prosperidade dos cidadãos.

Andrews menciona diversas razões, mas me aterei a poucas delas, muito importantes para serem ignoradas. A vastidão do Império Romano gerava dificuldades de comunicação, apesar de excelentes estradas e meios de contacto. O Brasil tem imensidão geográfica (somos o 5º maior país do mundo) e não deveria haver problemas de comunicação – temos bom sistema telefônico, internet, comunicações terrestres e aéreas e principalmente, uma só língua. E ainda assim temos uma dificuldade imensa de comunicação, função de diferenças ideológicas e de confrontos de personalidades. A falta de entendimento entre a Presidência e certos Governadores e entre estes e Prefeitos cria uma balbúrdia de comunicação e, consequentemente, de tomada de decisões. As decisões acabam sendo postergadas ou tomadas mais em função de posição política do que em função das necessidades da população – o que leva ao desperdício de recursos financeiros, humanos e materiais.

Um outro fator comum à derrocada de Roma e os riscos atuais no Brasil é a crescente corrupção. Lideranças ineficientes e inconsistentes somadas a corrupção endêmica formam uma perigosa sopa. O Brasil tem importantes políticos presos ou aguardando prisão. Recentemente tivemos ex-Presidentes da Nação Lula e Temer presos, ex-Presidentes da Câmara Severino Cavalcanti, João Paulo Cunha, Henrique Alves, Eduardo Cunha (entre outros), os Ex-Presidentes do Senado presos ou indiciados Edson Lobão, Renan Calheiros, Garibaldi Alves e outros. A podridão nos altos escalões políticos faz com que um sem número de Senadores, Deputados Federais, Prefeitos e até membros do judiciário sejam investigados em casos de fraudes, desvios, subornos e todo tipo de crime de corrupção. A ineficiência e a leniência do judiciário, infelizmente, não coíbem estas ocorrências pois o acusado pode ser julgado e recorrer à 1ª, 2ª e 3ª instância em processos longos, cheios de recursos e “pedidos de vistas” que quase funcionam como garantia de impunidade, estimulando a continuidade deste perverso sistema.

Há mais um fator que não pode ser desprezado: o baixo nível educacional da população. Tomemos o exemplo da engenharia. Em 2010 o Brasil registrou 184 patentes de tecnologia. No mesmo ano, a Rússia registrou 5.698, o Japão 7.334, os EUA registraram 11.905 e a China 60.908. Infelizmente em 2020 estes números nos colocaram ainda mais distantes dos países líderes. Esta defasagem se dá em muitas outras áreas, o que talvez explique a baixa produtividade nacional. Um trabalhador Norte-Americano produzia 4 vezes mais que um Brasileiro em 2018. Em 2019 (último dado disponível), a produtividade do Brasileiro caiu 1% enquanto nos EUA subiu 1,7%. E não estamos comparando com a Coréia do Sul ou a China…

A mudança das crenças e valores Romanos foi outro fator importante da queda daquele império. E em nossa sociedade, o que ocorre? Os valores familiares atacados diuturnamente na TV e no cinema, as músicas de duplo sentido incentivando rompimento com valores tradicionais, a quebra do respeito aos pais, a “deusificação” da juventude e o abandono do conhecimento e experiência dos mais velhos vão criando uma ruptura pela qual já estamos pagando, mas pagaremos muito mais em poucos anos. Aliado a isso vemos a difusão das drogas e a defesa da liberação das mesmas sem preocupação alguma com a capacidade dos sistemas de saúde para enfrentar as consequências inevitáveis de agravamento da saúde física e mental bem como do incremento de absenteísmo laboral, rompimentos familiares e queda de renda entre os dependentes químicos.

Para terminar, há que se lembrar que Roma sofreu com o desengajamento da juventude sadia em seu exército. Jovens deixaram de ver a necessidade de lutar e defender seu país. No Brasil isto se verifica tanto na área política como educacional. A potência das nações já não se mede por sua força militar, mas por seu sistema educacional e sua liderança política. Infelizmente o Brasil há muito não atrai sua juventude para estas áreas cruciais.

Sim, ainda há tempo para mudanças. Mas elas precisam se iniciar o quanto antes. Talvez ainda hoje – para que não seja tarde.
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*Marcos L Susskind é comunitário, palestrante e Guia de, Turismo em Israel


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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