Dr. Claudio Jerônimo “uma trajetória de sucesso”
“Sempre fica um ramo das minhas raízes por onde passo. A experiência adquirida em cada projeto que passei, é parte integrante do que sou profissionalmente. Tenho liderado muitas equipes e formado muito amigos nessa trajetória” Dr. Claudio Jerônimo
*Por Adriana Moraes
Neste mês que comemoramos o Dia do Psiquiatra, que alegria ter a oportunidade de conversar com o **Dr. Claudio Jerônimo da Silva, profissional dedicado, movido a novos desafios, como veremos na entrevista abaixo, que honra sua carreira e profissão! O psiquiatra em entrevista exclusiva contou detalhes sobre sua carreira, suas experiências no Campo Acadêmico e em Gestão de Serviços das Unidades AME (Ambulatório Médico de Especialidades) Vila Maria, UNAD (Unidade de Atendimento ao Dependente Químico), Hospital Cantareira, Unidade Recomeço Helvetia, falou também sobre desafios e dificuldades da sua profissão e no final da entrevista deixou uma mensagem para quem deseja trabalhar na área de dependência química.
Nosso convidado realiza seu trabalho com muito empenho, dedicação e entusiasmo, atua nas seguintes linhas de pesquisa: ensino, organização de serviços, políticas públicas e modelos de tratamento em dependência química. Jerônimo destaca a importância da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) em sua trajetória profissional: “Não há melhor escola do que trabalhar numa das maiores empresas de saúde do Brasil, a SPDM”.
Atualmente é o Diretor Técnico da Unidade Recomeço Helvetia situada na Rua Helvetia, 55 – Centro de São Paulo, gerenciada pela SPDM. A Unidade foi criada especialmente para atender os dependentes químicos nas redondezas da cracolândia, com o objetivo principal de tratá-los e reinseri-los socialmente. Dividi-se entre o Centro de Convivência para aqueles que estão numa fase inicial do processo de tratamento, Enfermaria de Desintoxicação para uma fase intermediária e Moradia Monitorada para a fase final.
Entrevista
Em que momento da vida decidiu estudar e se dedicar à dependência química?
Eu comecei a estudar Dependência Química ainda na Residência, no terceiro ano, na UNESP em Botucatu. A maior parte do meu R3 foi dedicada ao ambulatório de álcool e drogas que era coordenado pela professora Florence Kerr Correia. Ainda na residência fiz estágio com o grupo do professor Sérgio de Paula Ramos, no Rio Grande do Sul e no Hospital Cantídio de Moura Campo em Botucatu – uma enfermaria exclusiva de Álcool e Drogas. Ainda hoje me pergunto os motivos pelos quais eu escolhi estudar esse tema. Fora o fato de simplesmente ter me apaixonado, duas outras questões me influenciaram: havia muito campo de aprendizado, pesquisa em relação ao tema de maneira geral, e no Brasil era uma área bastante carente. Vi nesse campo um desafio e uma oportunidade. Sou movido à desafio.
Como foi sua história na UNIAD
Embora eu seja movido por desafios, eu sempre fui de fincar raízes por onde passo. Assim foi com a minha vinda à UNIAD. No ano de 1998, ao final da minha residência fui apresentado pela professora Florence ao prof. Ronaldo Laranjeira e já comecei frequentar algumas reuniões clínicas na Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas e pensar no tema do meu mestrado. No ano seguinte fiz o primeiro curso de Especialização em Dependência Química na UNIFESP e no ano seguinte já estava ministrando algumas aulas nesse mesmo curso. No ano de 2000 tive a oportunidade de montar o primeiro curso de Especialização em Dependência Química via internet, junto com o prof. Ronaldo. Foi um ano de muito aprendizado para mim. Coordenei esse curso junto com o professor Ronaldo por alguns anos.
Comente sua experiência no campo acadêmico
Paralelamente aos trabalhos no curso de especialização em Dependência Química via internet eu fui desenhando sob a orientação do prof. Ronaldo Laranjeira, minha pesquisa de mestrado. Fiz o projeto, submeti para aquisição de bolsa pela FAPESP e recebi financiamento e comecei a me dedicar a essa pesquisa. Nessa época, muito influenciado pela experiência na organização do curso de especialização virtual, fiz minha pesquisa voltada ao ensino. Apliquei um treinamento em profissionais da saúde da rede primária e fiz um seguimento de dois anos, avaliando o impacto do treinamento. Na qualificação da minha pesquisa, fui aprovado para o doutorado, direto e defendi a tese em 2005. Nessa época passei alguns meses visitando alguns Serviços de Álcool e Drogas em Londres.
Não me considero um pesquisador prioritariamente, mas desde então nunca abandonei totalmente essa área e tenho participado de várias pesquisas em co-autoria com outros pesquisadores. Gosto bastante da área de ensino também. Tenho participado dos Cursos de Especialização da UNIAD e agora mais recentemente coordeno os módulos de gestão e qualidade do MBA em Dependência Química pela SPDM.
Conte um pouco da sua experiência de Gestão de Serviços
Como disse anteriormente sou movido a desafios. E percebi que havia uma lacuna na Organização de Serviços para Dependência Química e comecei a ser demandado a participar de projetos nesse campo.
Em parceira com duas assistentes sociais e uma psicóloga de Jundiaí, Selma, Leila e Regina, fundamos o Centro de Especializado em álcool e Drogas, o CEAD. Montamos o primeiro CAPS AD de Jundiaí no ano de 2001. Fui presidente e vice presidente dessa entidade filantrópica que recebeu reconhecimento Estadual. Até esse ano de 2020 permaneci vice presidente do CEAD. Hoje o CEAD cresceu e além de gerenciar o CAPS AD de Jundiaí, gerencia outros Serviços na área de Álcool e Drogas, como Residências Terapêuticas.
Na medida em que fui me especializando em Dependência Química e me envolvendo em organização e Gestão de Serviços senti necessidade de estudar um pouco mais sobre gestão e me candidatei a um MBA de gestão em saúde no Instituto de Ensino Pesquisa – Insper – aqui em São Paulo.
Da mesma forma que vi uma deficiência e uma oportunidade na área clínica de Dependência Química no início da carreira, vi aqui também uma deficiência e oportunidade e nos últimos anos tenho me dedicado bastante na gestão de novos modelos de Serviços para Dependentes Químicos.
Como foi sua experiência no AME psiquiatria?
O AME psiquiatria foi minha segunda experiência na Gestão de Serviços. Foi o início da minha jornada como gestor, na SPDM. Não há melhor escola do que trabalhar numa das maiores empresas de saúde do Brasil, a SPDM.
Eu havia, até então, me envolvido bastante na implantação do CAPS de Jundiaí, e conhecido mais profundamente as portarias que regem a implantação dos CAPS desde os seus primórdios, mas o AME psiquiatria era um novo modelo, alternativo para os CAPS. Candidatei-me à vaga de coordenador médico do ambulatório de Álcool e Drogas do AME psiquiatria e participei de todo o processo de implantação desse ambulatório, desde a concepção do modelo, até a formação e treinamento de uma equipe.
O AME psiquiatria foi uma experiência fantástica. Tenho muito orgulho de ter feito parte do início desse projeto. Aprendi muito e nos anos que coordenei esse ambulatório, colhemos muitos frutos: dois mestrados (um sobre adolescentes, e outro sobre sexualidade, e um doutorado (sobre Manejo de Contingência) e mais pelo menos dois artigos, ao que me recordo, foram frutos acadêmicos dessa época, sem contar a experiência adquirida em gestão. Minha primeira experiência prática com a Justiça Terapêutica se deu também no AME, em parceria com o fórum de Santana.
E como começou a sua jornada como diretor técnico, na UNAD?
Serviços para adolescência e dependência química sempre foi uma deficiência no nosso país, infelizmente. A UNAD foi a minha primeira experiência com esse público. Sem dúvida foi o primeiro maior desafio da minha carreira. O segundo tem sido a Unidade Recomeço Helvetia. Foi uma fase bastante difícil, para mim pessoalmente, porque fora a questão clínica e de gestão, comecei a lidar com outros desafios, políticos, que interferem nas políticas públicas nessa área. Eu tenho na memória cada um daqueles meninos e meninas que passaram por internação na UNAD. Era um público de altíssima vulnerabilidade social. Destaco, nessa experiência, a parceria que tínhamos com o poder judiciário e que foi bastante rica. Aspectos clínicos, sociais e de conflito com a lei eram trabalhados de forma conjunta em audiência com juízes, rede de apoio psicossocial e família em audiências conjuntas conduzidas pelo Departamento de Infância e Juventude do Estado de São Paulo (DEIJ).
Depois da UNAD, vieram a diretoria do Hospital Cantareira, e Unidade Recomeço Helvetia, como é sua rotina de trabalho na URH?
Gosto de participar de novos Serviços de Dependência Química desde a sua concepção, projeto, implantação e gestão. O Hospital Cantareira, participei desde a concepção e foi minha primeira experiência em um hospital particular. Aprendi bastante com esse projeto e hoje o Hospital Cantareira mantém o Serviço Privado de Hospital Dia e Internação.
Quando fui convidado para gerenciar a Unidade Recomeço Helvetia, ela tinha sido recém inaugurada e funcionava apenas o Centro de Convivência. Participei, portanto, de todo o processo de implantação, desde a reforma do prédio até a estruturação da equipe, protocolos e acompanhamento do dia –a – dia da Unidade. Sem dúvida envolve muito trabalho. Manter um Serviço com a qualidade da URH em plena cracolândia é um desafio cotidiano. Obviamente sou bastante entusiasmado com esse modelo de Serviço pela integração que há entre todos os níveis de cuidado em um único serviço. Na URH, oferecemos cuidados básicos aos que estão em situação de rua e em pleno uso de droga, desintoxicação em enfermaria tradicional e Moradia Monitorada para ressocialização.
A MM oferece um lugar para morar livre de droga e possibilita a reinserção social de pacientes que estiveram na rua em uso de crack e precisam reconstruir suas vidas. A taxa de sucesso – medida pela adesão ao programa, pela abstinência (evidenciada por exames toxicológicos de urina), pela aquisição de independência (alta para moradia própria) – é altíssima. Esse é um trabalho em construção e certamente muitos frutos acadêmicos sairão desse projeto. Mas o maior fruto, sem dúvida, é cada vida recuperada.
Qual foi sua experiência mais marcante?
Como tenho me dedicado à implantação de novos modelos assistenciais, estou sempre envolvido num novo projeto, começando algo novo, e pensando algo novo. A UNIAD sob coordenação do prof Ronaldo Laranjeira, tem se destacado no cenário nacional como um importante fomentador de discussões acadêmicas e de políticas públicas. Identifico-me muito com essa missão e com esse espírito inovador. Tenho dificuldade de dizer qual dos desafios foi maior até o momento, então sempre respondo a essa pergunta dizendo que o maior desafio é o atual. Hoje tem sido a gestão da Unidade Recomeço Helvetia e a gestão do convênio que a SPDM tem com o Cratod. Mas certamente haverá outros desafios. Sou bastante inquieto, nesse sentido.
Cada missão, uma nova equipe de trabalho. Como é sua relação com colegas de trabalho?
Sempre fica um ramo das minhas raízes por onde passo. A experiência adquirida em cada projeto que passei, é parte integrante do que sou profissionalmente. Tenho liderado muitas equipes e formado muito amigos nessa trajetória. Prezo muito pela rede de relacionamento, porque não se faz nada sozinho. Orgulho-me de ver ex-alunos, ex-professores, ex-integrantes de minhas equipes, que ocupam hoje posição de destaque no cenário nacional, acadêmico ou de gestão. Pessoas que se tornaram amigas e referência para mim. Sou extremamente grato a cada uma dessas pessoas. Gosto de acreditar que ao sair de uma equipe para compor outra, deixo amigos.
Deixe uma mensagem para quem deseja atuar na área de dependência química
Para trabalhar com Dependência Química é preciso estudar sempre. É uma área com poucos recursos em termos de novas tecnologias, portanto o recurso humano é o mais importante e valioso. É preciso ainda compaixão, mais do que empatia e tratamento humanizado. O profissional que trabalha com dependência química precisa se envolver ao mesmo tempo em que mantém uma relação extremamente profissional. Isso é muito importante: é preciso se envolver, mas de forma profissional. Só o treinamento, a experiência e o autoconhecimento são capazes de formar essa habilidade. Para trabalhar com esse tema é preciso um misto de conhecimento, persistência, generosidade, compaixão e muito trabalho. Portanto, meu único conselho é: estude! Nossa área é extremamente vulnerável a paixões, ingerências políticas e mercadológicas. Ao longo desses anos assisti com pesar excelentes iniciativas se tornarem unicamente projetos políticos, boas ideias tornarem-se negócio puro, excelentes projetos que não se viabilizaram por questões ideológicas. Quando isso acontece, as maiores vítimas são os pacientes e suas famílias. Só a ciência e a profissionalização são capazes de manter as coisas no rumo certo. Continuo sempre ligado à UNIAD justamente porque a ciência é um de seus principais valores, com a qual eu me identifico e compartilho.
Dr. Claudio, grata por compartilhar conosco suas experiências e trajetória de sucesso! Faço votos de que continue realizando com tamanha excelência e dedicação seus trabalhos em prol dos dependentes químicos em recuperação.
Parabéns pelo Dia do Psiquiatra, comemorado no dia 13 de agosto! Que venham novos desafios!
*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).
** Dr. Claudio Jerônimo – Psiquiatra – Diretor Técnico da Unidade Recomeço Helvetia.
Currículo Lates: https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/52195/claudio-jeronimo-da-silva/