Isolamento social na cracolândia?
*Por Adriana Moraes
Novamente a discussão sobre o consumo de drogas na região central de São Paulo na cracolândia tomou conta do noticiário. O assunto é bastante polêmico e com divergências de opiniões. Qual a opinião dos leitores sobre o fim da cracôlandia? Alguém achou que dessa vez seria finalmente esvaziada?
Segundo as informações do portal R7 a Juíza Erika Soares de Azevedo Mascarenhas, negou o pedido do Ministério Público de São Paulo para esvaziamento da cracolândia, alegou que as pessoas em situação de rua que frequentam o local já são assistidas pelo Poder Público e citou o Programa Redenção da Prefeitura de São Paulo. [1]
A situação da cracolândia se agrava diante da complexidade do problema e com a pandemia da doença do COVID-19 (uma doença causada pelo coronavírus que apresenta um quadro clínico que varia de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves) e apesar do isolamento imposto na cidade de São Paulo, não alterou em nada a rotina de usuários de droga que vive ou frequenta a região. Como realizar um isolamento social imposto pela cidade de São Paulo na cracolândia com usuários aglomerados e sem medidas de higiene?
Miséria, abandono, violência, solidão, desesperança, infelizmente por razões variadas em um mesmo lugar crianças, adolescentes, mulheres, gestantes, homens, idosos, dividem na cracolândia o espaço com o lixo e com o passar do tempo se tornam pessoas vulneráveis devido à situação de pobreza e do consumo excessivo de crack e outras substâncias psicoativas. Muitos dependentes de crack passam a noite ou mesmo dias seguidos consumindo a droga até a completa exaustão, sem dormir e sem se alimentar minimamente. Isso implica obviamente uma grande vulnerabilidade a doenças clínicas, desnutrição e, pela necessidade de manutenção da autoadministração, comportamentos impulsivos, violentas, e promiscuidade no sentido de obtenção da droga ou dinheiro para a droga. [2]
Pesquisa realizada sobre Perfil dos frequentadores da Cena de Uso da Região da Luz – Cracolândia
O Levantamento de Cenas de Uso de Capitais (Lecuca), da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sobre a Cracolândia, na região central de São Paulo, revelou o perfil sociodemográfico dos frequentadores da Cracolândia, a maioria composta por homens (68.7%), solteiros (77.6%), com idade média de 35.2 anos; as mulheres participantes da pesquisa representaram 23.7% da amostra, com idade média de 34.6 anos. Observa-se que 7.5% dos frequentadores são transgêneros (idade média de 30 anos). As proporções de mulheres e transgêneros parece flutuar no decorrer dos anos, apresentando um aumento das mulheres e diminuição da população transgênero entre 2017 e 2019. [3]
O prazer gerado pela droga no cérebro faz o dependente fumar até a exaustão, sem se preocupar com os riscos. O cérebro vai se acostumando e são necessárias doses cada vez maiores para produzir o efeito que passa muito depressa. O crack é rapidamente eliminado do organismo, acarretando uma súbita interrupção da euforia e do enorme prazer. A fumaça do crack inalada é conduzida pela circulação sanguínea diretamente dos pulmões para o cérebro em cerca de 6 a 8 segundos. Os efeitos são rápidos (3 a 5 minutos) e quase sempre seguidos por um desejo incoercível de repetição do consumo.
Fim da cracolândia
O que se faz necessário é promover debates, ir à cracolândia e conhecer a realidade do território deles, para se ter uma avaliação mais perto da realidade, tudo com muito respeito e consideração que todas as pessoas merecem, independente do lugar que se encontram. Lembrando que na região da cracolândia, não existe nenhum zumbi e sim pessoas com os gravíssimos problemas de saúde, necessitando de assistência específica do Estado. Qual, afinal, seria a solução para o fim da cracolândia?
Sobre o Coronavírus
*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).
Referências:
[1] https://noticias.r7.com/sao-paulo/justica-de-sp-nega-pedido-do-mp-para-esvaziamento-da-cracolandia-14052020
[2] Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas / Alessandra Diehl – Daniel Cruz Cordeiro – Ronaldo Laranjeira – Porto Alegre: Artmed, 2011.
[3] file:///C:/Users/Adriana/Downloads/Relat%C3%B3rio-LECUCA-SP-Final.pdf