30 de dezembro de 2024

Tragédia anunciada e muito amarga

31 de outubro de 20224min143
doce

(*) Guilherme A. R. Franco

A notícia veio do Mato Grosso.

Preso um jovem casal que comercializava drogas na forma de “doces canábicos”.

É da página oficial da Polícia Civil daquele estado: “As diligências iniciaram após denúncias de que um casal vinha fabricando doces misturados com maconha e vendendo sob encomenda, inclusive em escolas para adolescentes e adultos.” (1)

O narcotráfico e o narcocapital se retroalimentam.

E andam de mãos dadas – conquanto invisíveis – visando à aculturação da “droga de comer”.

E por que?

Ora, dentre outros motivos, chega-se mais fácil às crianças.

Com isso os pequenos consumidores são logo cooptados para se tornarem literalmente cativos do produto deste cedo.

Não há a aspereza, irritação à garganta e tosses, provocadas por uma droga de “fumar” – que também têm odor bem característico.

A droga comestível vem disfarçada e imperceptível em um chocolate, um algodão doce ou um refrigerante.

Só ver o que tem ocorrido nos EEUU.

Milhares de crianças indo parar nas salas de emergência porque consumiram balas [do tipo “jujuba”] contendo THC [perigoso psicoativo presente na Cannabis – associado a vários males psíquicos].

Aliás, não por outro motivo que almejam a legalização dos cigarros eletrônicos: com sabores e aromas de tutti-frutti.

Sempre é bom lembrar que há em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei 399/15 que, se aprovado, permitirá a produção de doces e bebidas com os chamados “fitocabinoides” [dentre os quais o THC]. (2)

Tempos atrás a Fundação Abrinq criou a campanha do candidato amigo da criança.

Poderia e deveria ser reeditada – para que os seres humanos em desenvolvimento fossem integralmente respeitados, conferindo-lhes direitos e deveres.

Seria muito oportuno, outrossim, que o debate acerca das drogas – sejam lícitas ou não – fosse antes de mais nada abordado sob a ótica da proteção à criança e ao adolescente, a prioridade das prioridades.

Em um país no qual “cerveja” não é álcool, podendo ser livremente anunciada – por falta de coragem em se adotar as mesmas restrições de marketing que há com o cigarro, surge a inevitável pergunta “no olhar e na alma do povo” [parafraseando João Alexandre]:

A quem interessa ampliar o cardápio destruidor de milhões de cérebros?

(*) Membro do MPSP; especialista em Dependência Química

(1) http://www.pjc.mt.gov.br/-/22870232-policia-civil-prende-em-cuiaba-casal-que-vendia-doces-misturados-com-drogas
(2) https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=947642 – nota adicional: o PL foi totalmente desvirtuado em seu “substitutivo” e não diz respeito somente ao uso de medicamentos contendo fitocabinoides.


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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