Antônio Geraldo: Novo ano, novos hábitos; existe consumo positivo de bebidas alcoólicas?
Álcool é frequentemente associado à descontração e à socialização, mas não é indispensável
Apesar de seu consumo ser amplamente aceito socialmente, os impactos negativos das bebidas alcoólicas superam qualquer possível benefício. Elas prejudicam tanto a saúde física quanto mental, além de comprometerem a qualidade de vida e o bem-estar de quem as consome e até mesmo as do seu entorno.
O início de um novo ano é tradicionalmente um momento de reflexão, quando avaliamos hábitos e nos propomos a mudanças para uma vida mais saudável. Nesse contexto, a decisão de reduzir ou eliminar o consumo de álcool aparece como uma resolução crescente e relevante. Embora beber socialmente ou ocasionalmente seja visto como algo inofensivo, é essencial questionar os impactos reais dessa prática e reavaliar sua presença na rotina.
O álcool é frequentemente associado à descontração e à socialização, mas a verdade é que ele não é indispensável para nenhum desses momentos. A ideia de que o álcool desinibe ou relaxa é um mito: na prática, ele reduz o autocontrole, tornando as pessoas mais vulneráveis a situações embaraçosas ou abusivas, além de poder levar à dependência com o tempo. A maioria dos acidentes automobilísticos, homicídios, agressões às mulheres e afogamentos em adultos estão relacionados ao uso do álcool.
Os danos físicos causados pelo consumo de álcool são amplamente conhecidos, afetando órgãos como fígado e coração, e aumentando o risco de doenças graves como cirrose, hipertensão e câncer. Além disso, seu consumo constante acelera o envelhecimento, reduz o vigor físico e afeta negativamente a aparência. No entanto, os prejuízos à saúde mental são ainda mais alarmantes. O consumo de álcool está associado a transtornos como ansiedade, depressão, insônia e comportamentos impulsivos, que podem resultar em situações negativas de consequências irreparáveis.
É preciso também desconstruir a ideia equivocada de que o álcool ajuda a dormir melhor. Na verdade, ele interfere no ciclo natural do sono, impedindo um descanso reparador. Também, usar o álcool na tentativa de lidar com o estresse ou justificar comportamentos inadequados apenas mascara os problemas, adiando a adoção de estratégias saudáveis e eficazes para enfrentar desafios emocionais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o impacto do consumo de álcool na longevidade é significativo: as mulheres perdem, em média, 1,4% de anos de vida útil devido ao consumo de álcool, enquanto os homens perdem 7,4%. Esses dados não apenas revelam a redução do tempo de vida, mas também expõem os danos cumulativos que o consumo causa ao bem-estar, à estética e ao vigor ao longo dos anos. Ademais, o álcool pode funcionar como uma espécie de chamariz na seara de outros vícios como tabagismo e drogas ilícitas.
Reduzir ou abandonar o consumo de álcool começa com uma reflexão honesta: “Por que estou bebendo? É algo que realmente desejo ou é um hábito que sigo por pressão social ou rotina?” Identificar suas motivações é essencial para criar novos hábitos. Estabelecer limites claros ou até mesmo parar imediatamente o consumo pode trazer benefícios significativos para a saúde física, mental e emocional.
Se você tem dúvidas sobre os impactos negativos do álcool, se existe quantidade segura ou os danos que ele pode causar ao organismo, o médico-psiquiatra é o profissional mais adequado para oferecer orientações fidedignas. Ele pode ajudar na adoção de estratégias e cuidados preventivos, e, caso já exista dependência, é o especialista mais capacitado para oferecer um tratamento seguro e eficaz. O acompanhamento profissional é essencial para garantir resultados positivos e promover uma mudança que seja duradoura e transformadora. Lembre-se: quanto antes buscar ajuda, maiores serão os benefícios para sua saúde e qualidade de vida.
Se você precisar, peça ajuda!
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.