21 de dezembro de 2024

A descriminalização da maconha será solução ou aumentará os problemas?

14 de fevereiro de 201711min10
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*Por Adriana Moraes

No momento em que se discute a possível descriminalização da maconha, é sempre bom lembrar de que os problemas causados pelo uso de substâncias psicoativas apresentam-se atualmente, como um grave problema de saúde pública. Além dos problemas com as drogas legalizadas o álcool e o tabaco com a descriminalização do uso da maconha haverá um aumento no número de dependentes e o Estado terá um gasto ainda maior para tratar também os problemas de saúde desses usuários.

Muitas dúvidas surgem em torno da descriminalização do uso da erva, cito como exemplo: A descriminalização da maconha será solução ou aumentará os problemas relacionados á saúde, aos acidentes? Quem irá produzir? Qual a quantidade de drogas para uma pessoa ser considerada usuário ou traficante? Qual o impacto da descriminalização na saúde das futuras gerações, especialmente dos adolescentes?

Vamos rever a opinião de 04 especialistas sobre os malefícios causados pelo uso da maconha:

Dr. Claudio Jerônimo – Psiquiatra

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É relativamente fácil identificar um transtorno psicótico transitório induzido por maconha. Os sintomas têm relação com o uso da substância e se desenvolvem dentro de um mês após o uso ou durante a intoxicação. Classicamente se apresentam como delírios (ideias persecutórias), alucinações auditivas, prejuízo da crítica e agitação psicomotora, e melhoram com a abstinência. Também é fácil reconhecer quando a maconha está associada à esquizofrenia. Após um período de uso, principalmente na adolescência, o paciente apresenta um surto psicótico típico com delírio, alucinação, discurso desorganizado, embotamento afetivo, disfunção social progressiva e, ao longo do tempo, piora dos sintomas negativos, tais como embotamento, alogia (falta de raciocínio lógico) e avolição (falta de motivação para tarefas do cotidiano). Esse é um quadro grave, incurável e totalmente incapacitante. [1]

Dr. Valentim Gentil – Psiquiatra

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A maconha não é um fármaco. É uma mistura de flores, folhas e hastes da planta Cannabis sativa (cânhamo). Ela contém centenas de substâncias, algumas com possível ação terapêutica, outras altamente tóxicas. Haxixe e skunk são outras misturas. Os efeitos psicoativos e medicinais da Cannabis são conhecidos há séculos. Suas ações no cérebro são produzidas pelos canabinoides. O delta-9-tetraidrocanabinol (THC) melhora náuseas, dores e espasticidade (contração muscular involuntária), mas também é o principal responsável pelos efeitos psicoativos, como alterações do humor, do pensamento e do comportamento, alucinações e outros distúrbios de percepção. Outra molécula presente na maconha é o canabidiol (CBD), que tem sido testado para uso medicinal em neurologia e psiquiatria. Há muito se sabe que o uso de Cannabis agrava transtornos mentais pré-existentes. O THC e outros canabinoides, diferentemente do álcool e do tabaco, podem gerar estados psicóticos agudos e crônicos. A interação entre predisposição genética e demais fatores físicos e emocionais que resultam na constituição do indivíduo, o início precoce do uso, a frequência do consumo e o alto teor de THC pode causar e não só desencadear psicoses, antecipar a idade do primeiro surto e levar à persistência da psicose mesmo após a interrupção do uso da droga. [2]

Dr. Ronaldo Laranjeira – Psiquiatra

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 É importante pontuar uma questão: existe uma diferença entre fumar maconha e usar uma substância presente em sua composição para fins medicinais. A comunidade médica é favorável sim ao uso terapêutico de substâncias, o que é muito diferente de simplesmente apoiar o ato de fumar maconha, que contém centenas de outras substâncias, muitas nocivas ao organismo. Diversos estudos demonstram que o THC afeta os sistemas vascular e nervoso central, alterando o funcionamento normal do cérebro e provocando diversas reações. Um estudo conduzido durante vinte anos pelo pesquisador Wayne Denis Hall, conselheiro da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou que a droga se caracteriza por ser viciante (um em cada dez adolescentes que fumam maconha frequentemente se torna dependente), pelo comprometimento intelectual em usuários regulares (prejudicando atividades como estudos ou trabalho) e por dobrar o risco de desenvolvimento de doenças psíquicas, como esquizofrenia e síndrome amotivacional, uma doença muito similar à depressão, que provoca falta de motivação para realizar tarefas. [3]
 

Dr. Antônio Geraldo da Silva – Psiquiatra

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Sou contra qualquer facilitador de acesso a qualquer droga. Sou contrário ao acesso ao cigarro e ao álcool, é preciso deixar claro que isso não diz respeito somente à maconha. Sou médico, como posso facilitar o acesso a substâncias que causam doenças mentais? A descriminalização da maconha vai aumentar e muito o número de pessoas com transtornos mentais. Hoje, o sistema público não consegue ter espaço para atender os alcoólatras que temos. Vamos ter o uso de mais uma droga que muda a atitude das pessoas? A nossa luta é para dificultar o acesso ao álcool e jamais discutir o acesso a outra droga. O Brasil não comporta mais doentes. Temos 2 milhões de dependentes de maconha, libera tudo e vamos ver como vai ficar isso. Você vai entrar em um avião e vê que o comandante tem um maço de maconha no bolso. Como você vai se sentir? Você está em um centro cirúrgico, sua mãe vai entrar para a operação, o médico chega com um maço de maconha no bolso, como fica a sua tranquilidade? Tem gente que tem o absurdo de dizer que a maconha não provoca nada. Quanto estão ganhando para dizer isso? [4]

Organizações criminosas

Sabemos que as drogas fazem mal, levam a dependência, causa mortes, destruições, violência. A descriminalização não é o caminho para resolver ou diminuir os problemas. As organizações criminosas serão beneficiadas com a descriminalização, já que aumentará o número de “clientes”, de usuários e dependentes e assim os traficantes expandirão cada vez mais suas vendas.

 

*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

Referências:

 
 

 [4] http://www.uniad.org.br/interatividade/noticias/item/23395-libera-tudo-e-vamos-ver-como-fica-diz-psiquiatra-contra-libera%C3%A7%C3%A3o-de-drogas


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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