18 de setembro de 2024

Entrevista com Dr. Antônio Geraldo: dedicação e compromisso na Campanha Setembro Amarelo, que completa 11 Anos no Brasil

18 de setembro de 2024843min19
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*Por Adriana Moraes

A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) sempre desempenhou um papel ativo na Campanha de Prevenção ao Suicídio. Este ano, estamos extremamente orgulhosos com a oficialização de nossa parceria com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). 

**Dr. Antônio Geraldo
É com grande satisfação que damos as boas-vindas novamente ao psiquiatra Dr. Antônio Geraldo, Presidente da ABP.

Nosso convidado discutirá a evolução da Campanha Setembro Amarelo, destacando conquistas e impactos na conscientização sobre o suicídio e na redução do estigma relacionado à saúde mental. Ele abordará como a ABP orienta a busca por informações corretas, os desafios enfrentados pela campanha, estratégias para mobilizar a população, o papel das redes sociais na disseminação da mensagem e a importância de tratar o tema com respeito, evitando interpretações equivocadas, como a expressão ‘em comemoração ao Setembro Amarelo’.

A Campanha de Prevenção ao Suicídio de 2024, que completa seu 11º ano no Brasil, tem como tema “Se precisar, peça ajuda!”.  O tema deste ano reafirma o compromisso com a promoção da saúde mental e o apoio a quem mais precisa.

Acompanhe a entrevista com o Dr. Antônio Geraldo:

1. Como a Campanha Setembro Amarelo evoluiu desde o seu início há 11 anos? Quais foram os marcos importantes ao longo desse período?

A Campanha Setembro Amarelo não existia no Brasil, eu a conheci nos Estados Unidos e trouxe para o nosso país em 2013. Ao longo desses 11 anos colaboramos com diversos órgãos governamentais, empresas, associações, escolas para promover eventos, palestras e atividades que incentivem o diálogo aberto sobre saúde mental e a prevenção ao suicídio. Colocamos no calendário nacional o Dia de Prevenção ao Suicídio. Nosso trabalho incansável pela saúde mental da população brasileira, a luta por políticas públicas e acesso gratuito a serviços de saúde durante 365 dias no ano, mas especialmente no mês de setembro, nos tornou referência. Participamos de audiências públicas nas Câmaras, no Senado. Fizemos parceria com o Conselho Federal de Medicina, com o Ministério da Defesa, com Conselhos Regionais de Medicina para ampliar o alcance da nossa mensagem. Nesses 11 anos também contamos com a parceria da imprensa para informar, desmistificar as doenças mentais e orientar a população de que é possível ter tratamento e onde buscá-lo. Participamos de muitas matérias levando informação correta e embasada cientificamente contribuindo para quebrar o tabu sobre temas relacionados à saúde mental e prevenção do suicídio.

2. Como a ABP tem orientado as pessoas a buscar informações corretas especialmente durante o mês de setembro, quando observamos tanto a comercialização inadequada da temática do suicídio como por exemplo, venda de cursos e palestras?

A ABP desenvolveu cartilhas disponibilizadas gratuitamente para que as pessoas tenham acesso facilitado a informações de qualidade e com embasamento científico. Nossas cartilhas têm orientações para pais e responsáveis sobre como abordar a saúde mental e o suicídio com crianças e adolescentes, cartilha para profissionais da imprensa e da comunicação para como informar sobre casos de suicídios porque percebemos que há muitos erros em como se noticia esses casos podendo gerar efeitos negativos como o Efeito Werther aumentando os números. Também fizemos cartilhas e outros materiais orientando a população em geral sobre como e onde buscar ajuda. O suicídio pode ser prevenido, mas para isso é preciso tratar doenças e promover a saúde e as pessoas precisam saber onde buscar ajuda.

3. Quais foram os maiores desafios enfrentados pela Campanha Setembro Amarelo e como eles foram superados?
O estigma e o preconceito é a principal barreira quando falamos de saúde mental e prevenção ao suicídio. O preconceito contra o doente mental, contra quem faz uso de medicamentos. Em 2011, quando comecei com a campanha contra a psicofobia, já demos início a um movimento para acabar com esse preconceito. Porque pessoas que têm doenças mentais são pessoas normais. Com tratamento adequado elas podem ter qualidade de vida. O tabu em falar sobre suicídio era muito grande, pois as pessoas acreditavam que falar sobre isso aumentava os casos ou que não deveríamos falar de jeito nenhum. Mas ao longo do tempo fomos ganhando espaço para levar informações confiáveis para que as pessoas pudessem entender o assunto e mostrar que prevenir doenças pode diminuir os casos de suicídio.

4. Quais estratégias têm sido mais eficazes para envolver e mobilizar a população em torno da causa da prevenção ao suicídio durante o Setembro Amarelo?
Levar informação. Utilizar mídias sociais para se comunicar e levar informação de qualidade para a população em geral, promover eventos para aumentar a visibilidade sobre a importância da prevenção ao suicídio. Palestras para órgãos governamentais e empresas. Tudo isso ajuda as pessoas a identificar e a responder a sinais de crise. Este ano produzimos uma nova cartilha voltada para pais e responsáveis chamada “Como falar de saúde mental com crianças e adolescentes”. Nesta cartilha trazemos orientações de como falar com crianças e adolescentes sobre doenças mentais e suicídio de acordo com a faixa etária.

5. Qual tem sido o impacto das redes sociais e da tecnologia na disseminação da mensagem da Campanha Setembro Amarelo e na mobilização de apoio?

As redes sociais podem ser uma ótima ferramenta de disseminação de informação se usada de maneira correta. As redes sociais nos permitem uma ampla divulgação de informações, alcançando um público diversificado e de todos os cantos do país. No entanto, é importante considerar que a mesma tecnologia pode ter efeitos negativos, como a disseminação de informações errôneas. Por isso, é importante ter responsabilidade ao divulgar informações.

6. Como o estigma em torno do suicídio afeta a prevenção e o tratamento? O que podemos fazer para reduzir o estigma e promover uma conversa mais aberta sobre o tema? 

Ainda há um tabu muito grande em falar sobre suicídio. Muitas pessoas acreditam que falar sobre o assunto pode aumentar o número de casos. Mas isso não é verdade. O suicídio pode ser prevenido. O estigma e o preconceito com as doenças mentais pode fazer com que as pessoas sintam vergonha ou medo impedindo que elas busquem o tratamento que precisam. Para combater o estigma, precisamos conscientizar a sociedade e disseminar informação desmistificando crenças errôneas e preconceituosas e mostrando que o suicídio é uma questão grave de saúde pública que necessita de tratamento adequado.

7. De que forma podemos abordar de maneira mais apropriada e respeitosa o tema do suicídio, considerando que algumas pessoas erroneamente utilizam a expressão ‘comemoração ao setembro amarelo’, o que não reflete a seriedade e a importância desse assunto?

Infelizmente muitas pessoas usam termos errados para falar do suicídio. Nós não comemoramos nada. O que fazemos é concentrar esforços para falar deste assunto, para trazer este assunto à tona e indicar o que fazer para salvar vidas. Não adianta noticiar. Você tem que informar adequadamente. E deixar claro para as pessoas o que você pode fazer em caso de ideação suicida ou sintomas de doença mental. Onde buscar ajuda, como buscar ajuda, qual o profissional adequado para tratar doenças mentais, o que fazer em caso de emergência. Quem está pensando em suicídio é porque tem algum tipo de transtorno mental e precisa de tratamento, precisa de ajudar e deve buscar ajuda porque suicídio não é saída para ninguém. Por isso é importante informar adequadamente, para salvar vidas.

8. Qual é o papel da saúde mental e do acesso aos serviços na prevenção do suicídio? Como podemos melhorar o acesso a esses recursos?

Fundamental. O suicídio pode ser prevenido. Para isso, precisamos fazer uma promoção da saúde e prevenção de doenças. Praticamente 100% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Precisamos que as pessoas tenham acesso ambulatorial ao tratamento com o psiquiatra e a equipe de saúde. Precisamos de políticas públicas eficientes voltadas para prevenir doenças e cuidar da saúde mental. Falta fazer no sistema público, o que fazemos no sistema privado: gestão. Precisamos de ações de promoção da saúde e prevenção ao suicídio e campanhas para reduzir o estigma em relação às pessoas que sofrem de doenças mentais.

 

 
Pesquisa população brasileira se opõe à maconha (16).png
Gostaríamos de expressar nossos agradecimentos ao Dr. Antônio Geraldo por sua valiosa contribuição e pelo empenho na área da saúde mental!
 
Novidade da ABP:
Cartilha: Como falar de saúde mental com crianças e adolescentes https://www.setembroamarelo.com/_files/ugd/e0f082_daad2ce3ff68429ca2389581c82bcea6.pdf

*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química  e Saúde Mental – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas). Atuo no HUB de Cuidados em Crack e outras Drogas.

** Dr. Antônio Geraldo da Silva é médico psiquiatra.  Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria e Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo. Autor de dezenas de livros e artigos científicos em revistas internacionais. Palestrante nacional e internacional. É Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia.


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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