Antônio Geraldo: “Saúde mental de atletas de alto rendimento”
Tornou-se comum vermos atletas de elite relatarem quadros como ansiedade e depressão no ambiente esportivo e fora dele.
Pela primeira vez na história das participações do Brasil em Jogos Olímpicos, a delegação brasileira contará com a presença de um psiquiatra. Este é um marco significativo, em relação a quebra do preconceito e o reconhecimento da importância de se cuidar da saúde mental no esportista de alto rendimento, demonstrando maior conscientização sobre o assunto. O papel do psiquiatra inicia bem antes e é fundamental para garantir que os atletas não apenas alcancem seus objetivos físicos, mas também mantenham seu bem-estar psíquico e tenham maior rendimento.
Atletas de alto rendimento enfrentam uma pressão enorme para obter sucesso. O treinamento intenso, as competições constantes e as altas expectativas de desempenho podem afetar significativamente a saúde mental dos atletas. É uma situação crônica de pressão, de cobrança e resultados em relação a tudo que é investido. Atletas convivem sempre com a sensação de que podem perder tudo em um segundo. Se cair da barra, escorregar, perder por um detalhe mínimo, Se eles cometerem algum erro, podem vir a perder quatro anos de trabalho, oito anos de trabalho. A pressão é muito forte. Até a torcida, que é algo benéfico e legal, também contribuem para essa pressão que pode ser positiva ou negativa.
Tornou-se comum nos dias atuais vermos atletas de elite relatarem quadros como ansiedade e depressão no ambiente esportivo e fora dele. No entanto, o estigma e o preconceito relacionado às doenças mentais muitas vezes faz com que eles não falem sobre o assunto impedindo que busquem ajuda.
Outra questão que permeia o ambiente esportivo e é pouco falada são os transtornos alimentares, induzido por dietas rígidas e regradas. Temos a vigorexia, anorexia e bulimia, muito comuns no ambiente esportivo. Há também casos de outros quadros psiquiátricos como o caso do Michael Phelps, por exemplo, diagnosticado com TDAH desde a infância. Todas as pessoas com essas doenças necessitam de tratamentos específicos e muitas têm receio e se negam a fazerem o tratamento por medo de serem pegos no exame antidoping e suas carreiras serem prejudicadas.
O estigma e o preconceito relacionados às doenças mentais ainda são uma barreira no esporte. Muitos atletas podem hesitar em buscar ajuda por medo de serem vistos como fracos, incapazes, inseguros e etc. Esse estigma não apenas perpetua a vergonha, mas também pode impedir o tratamento adequado, prolongando os problemas e impactando negativamente no seu desempenho.
Importante lembrar que atletas são seres humanos e também têm vida pessoal, problemas familiares e dificuldades financeiras, fatores, tanto internos quanto externos que também podem afetar a sua saúde mental. O estresse diário, somado a uma sobrecarga nos treinamentos também pode impactar significativamente o estado mental dos atletas.
Além de tudo isso, atletas ainda precisam lidar com haters, cobranças nas mídias sociais e a falta de empatia das pessoas, que muitas vezes se alegram com as derrotas e os destratam quando eles falham. Mesmo nas poucas vitórias, elas não são aproveitadas como deveriam, limitando-se a breves momentos de fama e glória em vez de serem transformadas em investimentos que beneficiem a todos, proporcionando um cuidado melhor e melhores resultados para todos.
Apesar dos avanços e do crescente interesse em questões relacionadas ao psicológico dos atletas, o preconceito e a falta de conhecimento sobre a importância da psiquiatria ainda persistem. Muitos ainda associam a psiquiatria exclusivamente a condições de doença grave, ignorando que ela desempenha um papel importante para a prevenção de doenças e promoção da saúde.
A presença de um psiquiatra na delegação representa um passo importante para mudar essa perspectiva. Ao normalizar a presença desse profissional, contribuímos para a criação de um ambiente mais acolhedor e compreensivo, onde os atletas podem se sentir mais seguros para buscar ajuda sem receio de julgamento
É nesse momento que a psiquiatria se torna um recurso valioso. Não se trata apenas de tratar doenças mentais quando elas surgem ou estão em um estágio grave, mas de adotar uma abordagem preventiva. A psiquiatria pode ajudar a identificar sinais precoces de estresse e outros sintomas que possam levar a um quadro psiquiátrico, além de desenvolver estratégias de enfrentamento eficazes e promover o bem-estar dos atletas.
A abordagem preventiva deve começar com a promoção de uma cultura que valorize a saúde mental tanto quanto o desempenho físico. Criar programas de apoio, educar treinadores e equipes sobre os sinais que devem estar atentos de que há problemas de saúde mental e como oferecer suporte e outros recursos podem ser muito úteis. Ter médicos psiquiatras integrados à equipe esportiva pode fazer uma grande diferença nesse contexto.
Ainda há um longo caminho a percorrer para superar o estigma associado à saúde mental no contexto esportivo. O fato de ter um psiquiatra na delegação é um avanço, mas não garante a solução completa do problema. Precisamos de mais acesso não só dentro da delegação, mas também de um trabalho contínuo contra o preconceito 365 dias ao ano e oferecer oportunidades de tratamento para os atletas, que muitas vezes enfrentam a falta de patrocínio e de ajuda financeira. Alguns recebem suporte, enquanto outros ficam sem nenhuma possibilidade de tratamento, o que é muito ruim.
Em resumo, atletas de alto rendimento trazendo a saúde mental para o debate e compartilhando as suas experiências podem servir de exemplo e inspirar muitas pessoas. A saúde mental é uma parte essencial do sucesso esportivo de um atleta e deve ser tratada com a mesma seriedade que o treinamento físico. Cuidar da saúde mental, vale ouro!
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