Antonio Geraldo: desacelerar é preciso
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Em um mundo acelerado e hiperconectado, algo essencial tem sido negligenciado: o descanso. Longe de ser um luxo ou algo dispensável, desacelerar e permitir-se pausas é uma necessidade fundamental para a saúde do corpo e da mente. A busca incessante por produtividade nos faz acreditar que descanso é perda de tempo e que trabalhar mais é sempre melhor. Essa mentalidade, alimentada pelo estresse constante, cobranças externas e até pela pressão interna de estar sempre ocupado, cria um ciclo vicioso que compromete nosso equilíbrio.
Muitas vezes, essa pressão para fazer mais e mais é confundida com procrastinação ou até fracasso. A sensação de não dar conta pode gerar culpa, e as pessoas frequentemente acreditam que há algo de errado com elas. Porém, essa percepção não necessariamente indica preguiça ou um problema como o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Em muitos casos, trata-se simplesmente de uma sobrecarga de tarefas e responsabilidades. É impossível atender a todas as demandas ao mesmo tempo, e reconhecer essa limitação é o primeiro passo para sair desse ciclo de exaustão.
Quando não descansamos adequadamente, nosso corpo e nossa mente sofrem. Ficamos mais distraídos, nossa capacidade de concentração diminui e a memória começa a falhar. Esses lapsos de memória e atenção, muitas vezes confundidos com características de TDAH, são, na verdade, reflexos do cansaço acumulado. Sendo assim, buscar ajuda profissional de um médico psiquiatra é fundamental e importante para garantir que de fato essa condição não é uma doença. A falta de descanso prejudica diretamente as funções cognitivas, intensificando esquecimentos e erros que podem gerar frustração e afetar tanto o desempenho quanto as relações pessoais e profissionais. Além disso, esse estado de constante exaustão pode levar ao adoecimento mental, agravando problemas como ansiedade e depressão.
Outro fator que agrava essa sensação é a tentativa de assumir múltiplas tarefas ao mesmo tempo. A multitarefa, embora vista como uma habilidade valorizada, muitas vezes resulta em prejuízos ao desempenho e à saúde mental. Dividir a atenção entre diversas atividades pode comprometer a qualidade do que é feito e intensificar a sensação de sobrecarga. Por isso, é fundamental administrar melhor as multitarefas, adotando estratégias mais realistas e positivas, como priorizar o que realmente importa, delegar quando possível e estabelecer limites claros. Dessa forma, é possível evitar os impactos negativos da exacerbação de atividades que, na maioria das vezes, acabam sendo feitas de forma apressada e insatisfatória.
Paradoxalmente, mesmo nos momentos em que poderíamos descansar e permitir à mente uma pausa necessária, acabamos ocupando esse tempo com acessos incessantes às redes sociais e conteúdos vazios, que, na maioria das vezes, não trazem benefícios reais. Ao invés de relaxar, nos sobrecarregamos com informações inúteis, comparações e estímulos visuais que drenam ainda mais nossa energia. Esse hábito não apenas compromete nosso descanso, mas pode precipitar questões como ansiedade e insatisfação, agravando o cansaço mental e emocional.
Quando descansamos de verdade, recarregamos nossas energias e, ainda que pareça contraditório, nos tornamos mais produtivos. O descanso, no entanto, vai além de simplesmente dormir. Durante o sono, o cérebro processa informações, cria conexões e renova as energias para o dia seguinte. Sem uma boa qualidade de sono, nossa capacidade de regular emoções, lidar com o estresse e tomar decisões é afetada. Mas descansar também significa desconectar das demandas cotidianas por meio de atividades prazerosas, como ler, meditar, viajar, praticar hobbies ou estar em contato com a natureza. Esses momentos de pausa ajudam a aliviar o estresse e restabelecer o equilíbrio entre corpo e mente.
Desacelerar não significa abandonar responsabilidades, mas sim reconhecer a importância de oferecer ao corpo e à mente as pausas necessárias para manter um bom funcionamento. Isso inclui garantir noites de sono de qualidade, cultivar momentos de lazer que tragam prazer e ajustar expectativas para torná-las mais realistas e alcançáveis. Encontrar equilíbrio também passa por gerenciar as multitarefas de forma mais eficaz, respeitar os próprios limites e reduzir os excessos que comprometem o bem-estar.
Desacelerar é um ato de autocuidado essencial e não deve ser encarado como fraqueza, mas como uma escolha consciente por saúde e qualidade de vida. E lembre-se: se estiver difícil lidar com as demandas ou se sentir sobrecarregado, não hesite em buscar ajuda. Um médico psiquiatra é o profissional capacitado para identificar e tratar possíveis excessos ou transtornos, ajudando a recuperar o equilíbrio necessário. Se precisar, peça ajuda!
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.