Terapia combinada melhora as taxas de abstinência em mulheres fumantes preocupadas com o peso
Autora: Pam Harrison
A terapia combinada de bupropiona mais um programa customizado de terapia cognitivo-comportamental (TCC), especificamente criado para lidar com as preocupações femininas com o ganho de peso após a cessação do fumo produz taxas mais altas de abstinência em 6 meses e períodos mais longos até a recidiva do que a combinação padrão de TCC mais bupropiona ou de TCC somente (STANDARD).
Entretanto, em 12 meses, as diferenças nas taxas de abstinência em mulheres que receberam a terapia cognitivo-comportamental para as preocupações com o peso associadas ao fumo (CONCERNS) mais a bupropiona e aquelas que receberam a STANDARD TCC mais bupropiona já não eram estatisticamente significativas.
Michele Levine PhD, do centro médico da University of Pittsburgh, na Pensilvânia, e colaboradores da Michigan State University, em East Lansing, reportaram que 34% das mulheres no grupo CONCERNS mais bupropiona ainda permaneciam bioquimicamente abstinentes 6 meses após a data-alvo de cessação do fumo, comparadas a 11% das mulheres que receberam CONCERNS mais placebo.
Vinte e um por cento das mulheres no grupo STANDARD TCC, no qual as preocupações com o peso não foram especificamente abordadas, mas que também recebeu bupropiona, estavam abstinentes em 6 meses, comparadas a 10% das mulheres que receberam STANDARD TCC mais placebo.
Os índices de prevalência de abstinência pontuais em 6 meses foram de 37% para o grupo CONCERNS mais bupropiona, 11% para o grupo CONCERNS mais placebo, 26% para o grupo STANDARD TCC mais bupropiona e de 13% para o grupo STANDARD TCC mais placebo.
“Não é 100%, mas a maioria das mulheres está preocupada com o ganho de peso quando param de fumar”, a Dra. Levine contou à Medscape Psychiatry. “A combinação de um programa de preocupação com o peso mais a bupropiona ajudou, pelo menos durante um período de 6 meses, portanto, os resultados estão indo na direção correta”, ela acrescentou.
O medicamento atenua o ganho ponderal
Em uma investigação anterior J Consult Clin Psychol. 2001:69(4):604-613, os pesquisadores descobriram que o programa CONCERNS, mas não o controle comportamental do peso, melhorou significativamente as taxas de abstinência em 1, 6 e 12 meses de acompanhamento em relação ao tratamento padrão de cessação.
No presente estudo, eles acharam que a bupropiona seria “especialmente efetiva em combinação ao programa CONCERNS porque ela, por si só, pode atenuar o ganho ponderal e, como anti-depressivo, poderia ajudar no alívio dos sintomas depressivos nos mesmos períodos”.
Houve 2 manipulações experimentais: CONCERNS vs STANDARD TCC e medicação vs placebo. Um total de 349 mulheres fumantes, motivadas a largar o cigarro e que indicaram preocupação com o ganho ponderal pós-cessação foram designadas a 1 dos 4 grupos de estudo.
A bupropiona de liberação sustentada foi administrada em uma dose de 150 mg uma vez ao dia pelos primeiros 2 dias e duas vezes ao dia – numa dose total de 300 mg – pelo restante do período de tratamento de 26 semanas.
O aconselhamento compreendeu uma dúzia de sessões em grupo de 90 minutos, administradas durante 3 meses. As intervenções CONCERNS e STANDARD diferiram apenas no conteúdo adicional relacionado às preocupações com o peso fornecido durante a intervenção CONCERNS.
“Como hipotetizado, a terapia com bupropiona melhorou as taxas de abstinência nas pacientes que receberam a intervenção CONCERNS”, escrevem os autores.
Tempo mais longo até a recidiva
Mulheres no grupo CONCERNS mais bupropiona foram significativamente mais propensas do que aquelas no grupo CONCERNS mais placebo a permanecerem abstinentes em 3 meses (40,6% vs 18,4%; P = ,001), assim como em 6 meses (34% vs 11,5%; P < ,001) e em 12 meses (23,6% vs 8,1%; P = ,006).
Mulheres no grupo CONCERNS mais bupropiona também apresentaram um tempo mais longo até a recidiva (média de 266 dias), comparadas àquelas no grupo CONCERNS mais placebo (com uma média de 46 dias).
Em contraste, a intervenção CONCERNS não aumentou estatisticamente as taxas de abstinência em relação ao aconselhamento STANDARD em mulheres que receberam bupropiona.
Em 6 meses, as taxas de abstinência e a duração não diferiram significativamente entre o grupo STANDARD mais bupropiona, em 21%, comparadas ao grupo STANDARD mais placebo, e elas também não diferiram significativamente em 12 meses entre os 2 grupos, em 10% e 7%, respectivamente.
Taxas de abstinência prolongada bioquimicamente verificada em 3, 6 e 12 meses
Meses após a data-alvo de cessação |
CONCERNS + medicação (n = 106) |
CONCERNS + placebo (n = 87) |
STANDARD + medicação (n = 89) |
STANDARD + placebo (n = 67) |
3 meses |
41% |
18% |
33% |
19% |
6 meses |
34% |
11% |
21% |
10% |
12 meses |
24% |
8% |
19% |
7% |
Terapia combinada é melhor do que a monoterapia
Em 3 meses, as mulheres abstinentes no grupo CONCERNS mais bupropiona tinham ganhado uma média de 4,98 kg, comparadas a uma média de 5,31 kg nas mulheres no grupo STANDARD mais bupropiona e uma média de 5,49 kg no grupo CONCERNS mais placebo.
Os pesquisadores também descobriram que as mulheres no grupo STANDARD mais bupropiona relataram uma diminuição maior nos sintomas depressivos, bem como nos sintomas de abstinência de nicotina, em 3 meses do que aquelas no grupo STANDARD mais placebo.
Em 6 e 12 meses, entretanto, não houve diferença nos sintomas depressivos ou de abstinência entre as mulheres no grupo CONCERNS mais bupropiona comparadas àquelas no grupo CONCERNS mais placebo. Também não houve diferenças nos sintomas depressivos ou de abstinência entre as mulheres aleatoriamente designadas aos 2 grupos STANDARD.
“O estudo sugere que determinadas combinações de intervenções podem apresentar desfechos melhores do que uma intervenção sozinha, e nós acreditamos que esta particular combinação de uma intervenção voltada para o peso mais medicação pode ser capaz de ajudar este subgrupo especial de mulheres, que sofrem mais do que os homens ao pararem de fumar”, declarou a Dra. Levine.
O estudo foi financiado por um fundo do National Institute on Drug Abuse. A Dra. Levine foi parcialmente financiada por um fundo do National Institute on Drug Abuse. A GlaxoSmithKline forneceu a droga ativa e o placebo.
Arch Intern Med. 2010;170:543-550.
Informação sobre a autora: Pam Harrison é escritora freelance da Medscape.