23 de dezembro de 2024

Tratamento para usuários de maconha

30 de outubro de 201812min3062
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*Por Adriana Moraes

A cannabis é a droga psicoativa ilícita mais usada no mundo, a estimativa da OMS (Organização Mundial de Saúde) é de que haja 181,8 milhões de usuários da droga em suas preparações mais comuns, como maconha e haxixe, com idade entre 15 e 64 anos no mundo. [1]

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem sido utilizada com sucesso no tratamento de problemas de uso de substâncias psicoativas, especialmente na prevenção de recaída auxiliando o usuário de maconha a identificar e lidar com as situações de alto risco perante a substância. Pode ser definida como um conjunto de intervenções semiestruturadas, objetivas e orientadas para metas, considerando fatores cognitivos (e seus desdobramentos) e comportamentais, é tida como uma ferramenta importante para o tratamento da dependência em si e também para a reestruturação de toda a vida do indivíduo.

As drogas alteram o sistema nervoso central (SNC) do individuo, mudando seu humor, percepção, estado emocional, comportamento e aprendizagem. O THC (principal componente ativo da maconha) afeta primeiramente o funcionamento do sistema cardiovascular e nervoso central. O aumento da pulsação é seu efeito fisiológico observado com mais frequência, apesar de a pressão sanguínea ser pobremente afetada. Os vasos sanguíneos da córnea se dilatam, resultando em olhos avermelhados (frequentemente observados em pessoas que acabaram de fumar maconha). Os usuários costumam referir aumento do apetite, boca seca, vertigens ocasionais e leves, náuseas. [2]

O relatório da OMS afirmou que o uso diário de cannabis (maconha) durante anos e décadas parece produzir perdas persistentes de memória e cognição, especialmente quando seu uso começa na adolescência. As evidências mostram que o uso prolongado da maconha pode acarretar alterações sutis nas “funções cognitivas superiores” da memória, atenção, organização e integração de informações complexas, que podem afetar o funcionamento no dia a dia. [3]

O efeito do THC no cérebro ocorre por meios dos receptores específicos no SNC (córtex, hipocampo, hipotálamo, cerebelo, amígdala, giro do cíngulo anterior e gânglios da base) com a ocorrência de alterações cognitivas.

Tratamento

Apesar de muitos prejuízos do consumo prevalente, são poucos os usuários de maconha que buscam tratamento. A maioria dos dependentes de maconha encontra-se no estágio da pré-contemplação, ou seja, o usuário não encara seu uso como problemático ou causador de problemas, tampouco considera algum tipo de mudança. Em geral, não busca tratamento voluntariamente, e sim por causa dos pais, família, escola, trabalho ou por encaminhamento judiciário.

No inicio do tratamento é importante que o paciente se conscientize sobre seu problema, conhecendo os efeitos da droga de abuso; que perceba a necessidade de mudar seu comportamento de uso e junto com o terapeuta se prepare para fazer essa mudança.

O tratamento do usuário de maconha acontece em etapas. Primeiro deve-se informar ao paciente sobre a substância, já que muitos não conhecem seus efeitos, seus prejuízos. Em seguida deve-se motivar o paciente para a mudança, orientando-o para que aceite o tratamento e definindo objetivos. [3]

Alteração das funções cognitivas

A maconha vai agir principalmente nas áreas cerebrais responsáveis pela coordenação, percepção do tempo e espaço, julgamento e memória, além de agir indiretamente no sistema de recompensa cerebral. As evidências mostram que o uso prolongado da maconha pode acarretar alterações cognitivas sutis nas “funções cognitivas superiores” da memória, da atenção, organização e integração de informações complexas, que podem afetar o funcionamento do indivíduo no dia a dia. [3]

Terapia Cognitivo-comportamental (TCC)

O psiquiatra Aaron Beck desenvolveu a terapia cognitiva para o tratamento da depressão como um método estruturado, de curto prazo, orientado para o presente e dirigido para a resolução de problemas atuais, por meio da modificação do pensamento e do comportamento disfuncional, seu uso foi rapidamente estendido para diversas outras patologias, entre elas a dependência química.

De acordo coma perspectiva cognitiva proposta por Aaron Beck, o modo como uma pessoa interpreta uma situação específica influencia seus sentimentos, suas motivações e ações. Essas interpretações, por sua vez, são moldadas pelas crenças ativadas pelas situações. [3]

A terapia cognitivo-comportamental é eficaz durante o tratamento do usuário de maconha, fazendo com que o paciente perceba a necessidade de mudar seu comportamento em relação ao uso da droga. Esse modelo de tratamento concentra-se basicamente no que está acontecendo em sua vida nos momentos atuais ao invés de buscar causas no passado.

As técnicas cognitivo-comportamentais ensinam habilidades relevantes para auxiliar na redução ou cessação do consumo da substância psicoativa e capacitam o indivíduo a lidar com outros problemas, que podem afetar os resultados do tratamento.

Um dos principais objetivos da terapia cognitivo-comportamental é identificar e corrigir distorções cognitivas que geram problemas para o indivíduo e auxiliar no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento destas situações que põem em riscos o alcance dos objetivos estabelecidos durante o tratamento.

O dependente de forma geral sente-se incapaz de desenvolver suas atividades diárias sem o uso da substância psicoativa. A TCC procura produzir mudanças no pensamento e no sistema de crenças do paciente, auxilia o paciente a ver vantagens em estar sem consumir a substância, ajudando-o a identificar as situações de alto risco em relação ao uso da maconha, fazendo-o a buscar alternativas para lidar com essas situações.

Princípios Básicos da Terapia Cognitivo-comportamental

Princípio nº 1 – A terapia cognitivo-comportamental está baseada em uma formulação em desenvolvimento contínuo dos problemas dos pacientes e em uma conceituação individual de cada paciente em termos cognitivos.
Princípio nº 2 – A terapia cognitivo-comportamental requer uma aliança terapêutica sólida.
Princípio nº 3 – A terapia cognitivo-comportamental enfatiza a colaboração ativa.
Princípio nº 4 – A terapia cognitivo-comportamental é orientada para os objetivos e focada nos problemas.
Princípio nº 5 – A terapia cognitivo-comportamental enfatiza inicialmente o presente.
Princípio nº 6 – A terapia cognitivo-comportamental é educativa, tem como objetivo ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção de recaída.
Princípio nº 7 – A terapia cognitivo-comportamental visa ser limitada no tempo.
Princípio nº 8 – As sessões da terapia cognitivo-comportamental são estruturadas.
Princípio nº 9 – A terapia cognitivo-comportamental ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos e crenças disfuncionais.
Princípio nº 10 – A terapia cognitivo-comportamental usa uma variedade de técnicas para mudar o pensamento, o humor e o comportamento.

A TCC é uma terapia voltada para o problema geralmente aplicada em um formato de curto prazo. As sessões devem ser estruturadas, com agenda programada e com duração de 50 minutos a 60 minutos. Utiliza métodos de estruturação, com o estabelecimento de agenda e feedback, para maximinizar a eficácia das sessões de tratamento, ajudar os pacientes a organizar seus esforços em direção à recuperação e identificar o aprendizado.

Mais informações sobre a Terapia Cognitivo-Comportamental e Dependência Química:

https://www.uniad.org.br/interatividade/livros/item/25845-o-tratamento-da-depend%C3%AAncia-qu%C3%ADmica-e-as-terapias-cognitivo-comportamentais

livro dr ronaldo

*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

Referências:

[1]https://nacoesunidas.org/oms-cannabis-e-droga-ilicita-mais-consumida-no-mundo-com-180-milhoes-de-usuarios/
[2] Aconselhamento em dependência química / Neliana Buzi Figlie, Selma Bordin, Ronaldo Laranjeira. 2ª ed. São Paulo: Roca, 2010.
[3] Zanelatto, Neide. A. O tratamento da dependência química e as terapias cognitivo-comportamentais: um guia para terapeutas/ Organizadores, Neide A. Zanelatto, Ronaldo Laranjeira – Porto Alegre: Artmed, 2013.


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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