Apresentção– Suplemento – Álcool e a Psiquiatria Álcool: Da saúde pública à comorbidade psiquiátrica Alcohol: From public health to psychiatric comorbidity
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Apresentção– Suplemento – Álcool e a Psiquiatria
Álcool: Da saúde pública à comorbidade psiquiátrica
Alcohol: From public health to psychiatric comorbidity
Ronaldo Laranjeira
1– Babor, T. e colaboradores.
Alcohol: no ordinary commodity –research and public policy (2003) . Oxford University Press
A história das respostas das sociedades em relação ao álcool confunde-se com a história da psiquiatria. Basta lembrar que Benjamin Rush, um dos pais da psiquiatria americana foi ao mesmo tempo um dos mentores do começo da resposta da sociedade americana em relação ao álcool. Já no final do século XVIII ele notava que mais de 35% dos pacientes internados nos hospitais psiquiátricos americanos estavam lá devido ao consumo excessivo de álcool. A sua sugestão para amenizar o problema já contemplava medidas de controle ambiental como restrições ao número de pontos de venda de álcool e controle do preço de bebidas. Essas idéias influenciaram sobremaneira a resposta dessa sociedade e repercute até os dias de hoje.
Infelizmente no Brasil não temos uma história tão rica para contar. Ainda pagamos um alto preço pelo descontrole social em relação ao álcool. Vivemos sob vários pontos de vistas em situação semelhante ao que vivia os EUA há mais de dois séculos. Temos cerca de 50% das internações psiquiátricas masculinas devido ao álcool, e uma série de problemas sociais como violência, associado ao álcool. O nosso descontrole pode ser visto em alguns dados: 1 – um litro de pinta custa, na maioria dos lugares, menos de meio dólar (nenhum país desenvolvido tem uma bebida destilada nem mesmo próxima de dez dólares); 2 – pode-se comprar bebidas alcoólicas em qualquer lugar, qualquer hora e por qualquer pessoa e qualquer idade (todos os países desenvolvidos têm critérios bem definidos sobre quando, onde o por quem o álcool pode ser consumido); 3 – a propaganda televisiva no país é muito agressiva e visa claramente ampliar o mercado entre as crianças e adolescentes (em nenhum país desenvolvido admitiria-se a propaganda do “experimenta, experimenta”).
Esse suplemento da RBP visa mostrar o quanto a psiquiatria brasileira caminhou nesses últimos anos em relação ao álcool. Uma nova geração de psiquiatras inspirados por vários centros de excelência no Brasil e com formação no exteriorestão fazendo uma grande diferença no debate sobre as melhores políticas a serem desenvolvidas. Um bom exemplo é a publicação do primeiro consenso brasileiro sobre políticas públicas em relação ao álcool. Obra de várias organizações profissionais (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, Departamento de Dependência Química da ABP, e departamentos de psiquiatria de universidades de vários estados brasileiros) esse consenso visou discutir as políticas com melhores evidências científicas para serem implementadas no médio prazo no nosso país. Essas políticas já são analisadas e discutidas na literatura técnica há mais de 30 anos, num projeto financiado pela Organização Mundial de Saúde. O consenso brasileiro baseou-se no último livro dessa série publicado recentemente (1) e é uma excelente lista de ações que irão inevitavelmente serem implementadas em qualquer sociedade civilizada que queira diminuir o custo social do álcool.