Davi, Golias, e o vale de Elah: O debate entre evidência e opinião pessoal na área de prevenção e tratamento de drogas no Brasil
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Davi, Golias, e o vale de Elah:
O debate entre evidência e opinião pessoal na área de prevenção e tratamento de drogas no Brasil
Flavio Pechansky, Ilana Pinsky e Ronaldo Laranjeira
A história é conhecida: Davi, o frágil e esperto defensor dos judeus, tinha que enfrentar o gigante Golias na batalha sobre o vale de Elah, para defender seu povo e suas crenças. Usando uma série de truques bastante espertos, como jogar terra nos olhos do gigante, ou atirar pedras em seu rosto, Davi conseguiu vencer Golias e obter a vitória tão desejada.
Ótimo, mas isso funcionou para a bíblia. Na vida real, quando Davi enfrenta Golias, outras forças – nem sempre tão simples – podem estar agindo. Este editorial busca fornecer uma fotografia do que está acontecendo no campo – ou vale – da política e pesquisa sobre uso de drogas no Brasil, com um foco especial nos aspectos relacionados ao que leva à expansão dos chamados programas de redução de danos no país, e o esforço para desenvolver pesquisa de qualidade para guiar as abordagens nacionais. Existe um vale entre as políticas públicas e a pesquisa no Brasil, e gostariamos de comentar sobre o que pode estar gerando ou influenciando as forças que levam Davi e Golias ao combate. Mas também focar no vale que existe entre os dois lados.
Muitos paises estão no momento enfrentando uma encruzilhada na história das políticas públicas de prevenção do abuso de substancias, incluindo o controle de drogas lícitas e álcool. Pela primeira vez, talvez tenhamos que lidar com forças opostas que são fortes o suficiente para gerar ondas de reação em ambas as direções. No Brasil, no momento, os defensores das políticas públicas oficiais estão sugerindo métodos inovadores para abuso de drogas, a partir de estratégias de redução de danos – em particular, salas de injeção(1). Estas abordagens, que são razoavelmente bem aceitas em alguns países desenvolvidos (2,3,4), está frontalmente em colisão com o que cientistas brasileiros propõem, no que diz respeito ao seu momento de implementação e à sua prioridade para o país. É particularmente preocupante que se possa estar lidando com métodos avançados – mas eventualmente paradoxais – de abordagem preventiva, sem que se tenham implementado táticas mais básicas, simples, e baseadas em evidência