Entrevista- Maconha com Ronaldo Laranjeira, da Unifesp.
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Entrevista- Maconha com Ronaldo Laranjeira, da Unifesp.
— Existem estudos epidemiológicos sobre o uso de drogas no Brasil?
Esse é justamente o grande problema do país nesta área: os dados epidemiológicos são poucos e esparsos. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem vários sistemas de monitoramento da tendência de consumo de drogas. São feitos anualmente três inquéritos nacionais da população, entre os quais um específico para jovens, para avaliar como está o consumo de uma determinada droga naquele ano e também para se verificar como o consumo de uma determinada droga vai se estabelecendo ao longo dos anos na população. Lá já existe, portanto, uma sistemática formalizada de acompanhamento, que envolve vários grupos de pesquisa; isso é imprescindível para que se fale sério em uma “política de drogas”. Sem esse primeiro passo, fica-se apenas no discurso, e discurso não é política.
— No Brasil, então, estamos mal…
Não podemos dizer nem se o que se passa no nordeste é diferente do sul… Um dos melhores estudos epidemiológicos feitos no Brasil foi o coordenado pelo professor Elisaldo Carlini, aqui da Unifesp. Ele fez o levantamento do uso de drogas entre escolares em várias capitais do país. Mas o seu trabalho também apresentou limitações, que devem ser levadas em conta. Uma delas é de que, em geral, os usuários de droga abandonam os estudos e não permanecem na escola. Então, quando se analisam os dados obtidos em escolas, deve-se levar em conta esse fato e considerar que o número de usuários de drogas em idade escolar pode ser ainda maior do que o encontrado. Apesar de importantes, os estudos feitos no país estão limitados e nos fornecem apenas visões parciais do que ocorre. Através deles e dos dados obtidos a partir dos serviços de atendimento ao usuário, temos apenas indícios do que possa estar acontecendo. Aqui na Unifesp, por exemplo, atendemos cerca de 300 usuários de drogas por semana. Analisando essa demanda, temos “pistas” do que está acontecendo com a população em geral. Mas, veja, são apenas impressões, que não substituem a necessidade de um inquérito mais aprofundado. Ao contrário, nossas impressões parciais indicam a necessidade de inquéritos mais abrangentes.