Novo Instituto Nacional enfrentará consumo álcool
Novo Instituto Nacional enfrentará consumo de álcool como problema de saúde pública
Existe no país um bar para cada 180 brasileiros. Se não há dúvidas sobre a relação direta entre consumo de bebidas e violência, desconfia-se que a maior concentração de pontos-de-venda numa região potencialize este comportamento. Isso ocorreria não só porque a concorrência faria baixar o preço da bebida – aumentando o consumo – mas também porque a proximidade favoreceria a convivência de pessoas mais propensas à violência.
Verificar essa hipótese e propor ações que inibam tal concentração é um dos projetos do recém-criado Instituto Nacional para Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas, um dos 35 vencedores paulistas entre 260 participantes do edital do Programa Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, do CNPq/Fapesp.
Liderado pela equipe da Unidade de Álcool e Drogas (Uniad), do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e com recursos de R$ 2,4 milhões para serem investidos em três anos, o novo instituto pretende ampliar o treinamento de especialistas no tema, além de aumentar a abrangência das pesquisas sobre a eficiência de políticas públicas voltadas a reduzir o consumo de drogas e, particularmente, do álcool, principal problema de saúde mental do país.
Segundo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do instituto, outro projeto é expandir o levantamento sobre o perfil do consumidor de bebidas alcoólicas, alcançando todo o país. Também um dos responsáveis pela pesquisa “Beber e Dirigir”, que embasou a chamada Lei Seca, Laranjeira ainda deseja monitorar os resultados efetivos dessa legislação ao longo do tempo e passado o impacto inicial da grande exposição do tema na mídia. “Temos um bom número de especialistas no Brasil, mas ainda faltam pesquisadores. Os trabalhos ainda estão restritos a poucos grupos no Sudeste e Sul”.
Fatores ambientais
A possibilidade de propor, testar e avaliar modelos de prevenção ao consumo abusivo de álcool é o que mais motiva esses pesquisadores, imaginando que, apoiados num Instituto Nacional, será mais fácil encontrar dirigentes municipais ousados e dispostos a colocar em prática experiências de combate aos fatores ambientais que favorecem o alcoolismo. “No Brasil, o consumo é facilitado pelo baixo preço da bebida, falta de regulamentação da propaganda e pela existência de um milhão de pontos-de-venda, comercializando bebidas alcoólicas para menores, sem fiscalização”, explica Laranjeira.
Outra missão do instituto, de acordo com seu coordenador, é sugerir políticas públicas apoiadas em consensos internacionais sobre o tema. Um desses consensos é de que – ao contrário do que muitos pensam – investir em campanhas educativas e na conscientização oferece um retorno muito pequeno. “Conscientizar custa muito e demora demais. Temos que enfrentar os fatores ambientais que estimulam o consumo, restringindo a venda, a propaganda e ampliando os impostos e a fiscalização”.