Consumo de crack pode se tornar epidemia
Consumo de crack pode se tornar epidemia
Anderson Costa
Estudo realizado recentemente nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador aponta para o surgimento de uma possível uma epidemia do uso do crack no País. Segundo o levantamento, coordenado pelo Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, usuários dessa droga já respondem por cerca de 40% dos atendidos nos centros de tratamento em dependência química dessas capitais.
Números revelados pela Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc) mostram que em Goiás a situação não é diferente. Em 2007, as apreensões de crack feitas pelas Polícias Civil e Militar em todo o Estado totalizaram de 28 quilos. Já em 2008, esse número saltou para 110 quilos.
De acordo com o titular da Denarc, Izaías de Araújo Pinheiro, o aumento no consumo da droga não estaria ligado somente ao seu baixo custo. “O crack aos poucos vem substituindo a merla, pois, além se ser também muito barata, a droga pode ser facilmente transportada pelo usuário ou traficante. Enquanto que a merla é uma espécie de pasta, o crack é vendido em pedras bem pequenas. Ou seja, isso faz com que o usuário esconda facilmente a droga da polícia”, explica o delegado. Ainda de acordo com o titular da Denarc, em Goiânia uma pedra de crack pode ser vendida entre R$ 5 e R$ 10. Já a cocaína, muito consumida entre pessoas das classes média e média alta, tem um preço médio de R$ 30 por papelote.
Para se ter uma ideia do baixo custo do crack, Izaías Araújo explica que com um quilo de pasta base é possível produzir 2,5 quilos de cocaína pura, já no caso do crack, a mesma quantidade de pasta base pode gerar até cinco quilos da droga.
Pontos críticos
Segundo dados da Polícia Militar, em Goiânia a concentração de pontos de venda e consumo do crack estão nas regiões Centro-sul e Noroeste. “Vila Coronel Cosme, Vila Lobô, Setor Pedro Ludovico e Emílio Póvoa, na região Centro-sul ou Jardim Curitiba e Jardim Nova Esperança, na Região Noroeste nesses locais é registrada a grande maioria das ocorrências, envolvendo o uso de crack”, revela o assessor de comunicação da Polícia Militar, tenente-coronel Sérgio Katayama.
Ainda segundo o policial militar, apesar do crack já ter chegado às classes média e média alta, 90% de seus usuários estão nas camadas mais pobres da população. Katayma explica como funciona o ciclo da droga. “Em geral quem experimenta o crack já passou por outras drogas como a maconha, cocaína e o próprio álcool, por isso procura algo que dê mais efeito. Como o crack causa dependência facilmente, em pouco tempo o usuário fica sem dinheiro para manter o vício. É quando ele começa a cometer outros crimes como furto, roubos, latrocínios e próprio tráfico da droga. Ou seja, de cliente, o usuário vira facilmente empregado do traficante, que não usa a droga”, afirma.
Perfil de usuários
Há cinco anos o psicólogo Vitorino Rodrigues de Souza trabalha exclusivamente com dependentes químicos. Com sua experiência profissional, ele aponta um perfil básico do usuário de crack. “O consumo maior está entre a população mais pobre, a faixa etária pode variar de 15 a 45 anos, e a grande maioria dos usuários é de homens”, conta.
Ainda de acordo com o psicólogo, quem usa a droga, que também é conhecida como “beijo da lata”, tem uma outra peculiaridade. “Os usuários do crack, em geral, estão no final da reta do consumo de drogas, ou seja, a pessoa já experimentou várias drogas e está à procura de algo mais forte”, esclarece o especialista.
Vitorino explica que o efeito do crack é muito intenso, porém, o seu poder de vício também. “Quem experimenta a droga já fica dependente no terceiro uso”, revela.
O psicólogo acredita que, além do preço baixo, o efeito rápido, a grande intensidade e a facilidade de seu consumo são outras características que aumentam cada vez mais o uso do crack. “A droga age rápido, o seu efeito é muito intenso, mas só que o poder destrutivo do crack é maior do que qualquer outra droga”, alerta. O período de fissura do crack (momento de efeito da droga) não passa de cinco minutos, o que, segundo Vitorino, faz com que o usuário procure uma maior quantidade da substância, num período cada vez mais curto.