A celeuma da pílula usada para controlar o alcoolismo
A indicação de relaxante muscular para o tratamento da dependência de bebidas alcoólicas, de uso comum, é suspensa na França e deflagra acalorada polêmica
Na história das pequenas vitórias contra o alcoolismo, um médico e seu relato de empenho contra a dependência, transportado para um livro de sucesso global, O Fim do Meu Vício, de 2010, são incontornáveis. O cardiologista francês Olivier Ameisen (1953-2013), de brilhante carreira na Universidade Cornell, em Nova York, teve de interrompê-la por causa do excesso de bebida. Como nas mais belas aventuras da medicina, ele encontrou uma estrada para a recuperação de modo acidental. Ameisen sofria de espasmos musculares, que tratava com 5 miligramas diárias de baclofeno, um relaxante muscular barato. Ao perceber que o remédio o fazia perder a vontade de abrir garrafas, experimentou doses cada vez mais altas, até alcançar um nível elevado o suficiente (270 miligramas) para controlar a quantidade de drinques. “Comecei a dormir como um bebê e o impulso de beber diminuiu”, escreveu. Ao morrer de infarto, cinco anos depois de revelar ao mundo a descoberta, ele assegurava ter vencido o humilhante fantasma: “Tornei-me completamente indiferente ao álcool. Posso tomar uma bebida ou duas, e nada acontece”.
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