26 de novembro de 2024

Maconha inofensiva?

14 de novembro de 20199min150
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*Por Adriana Moraes

Há evidências de que o uso precoce da maconha pode estar relacionado com maior probabilidade de uso crônico, uso abusivo e dependência, além de efeitos sistêmicos, portanto não se trata de uma droga inofensiva, como tem sido divulgado.

O consumo de drogas ilícitas vem crescendo absurdamente nos últimos anos e tornou-se motivo de preocupação constante da sociedade brasileira. Com a possível descriminalização, sabemos que a facilitação para portar drogas vai aumentar o consumo e provavelmente, caminharemos para os diversos problemas parecidos com os causados pelas drogas lícitas (aquelas permitidas pela Lei), o álcool e o tabaco, só ressaltando que nosso país não dá conta sequer desses problemas, imaginem com outros tantos que estão por vir, o Estado terá um gasto ainda maior para tratar também os problemas de saúde desses usuários.

A retomada do julgamento realizado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que poderá descriminalizar a posse, o porte e o plantio de maconha para consumo pessoal no país, provavelmente ficará para 2020. Até o momento, já foram proferidos três votos, do ministro Gilmar Mendes e os ministros Luiz Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, todos favoráveis à descriminalização para consumo próprio. Cabe destacar que o relator do processo o ministro Gilmar Mendes votou a favor pela descriminalização do porte de todas as drogas (estimulantes, depressoras, perturbadoras). Já os ministros Edson Fachin e Luis Roberto Barroso votaram na descriminalização da maconha (substância perturbadora do sistema nervoso central).

Maconha / prejuízos

A maconha em geral, é fumada e seu uso produz efeitos muito variáveis, mas os mais comuns relatados por usuários são relaxamento, sensação de prazer (de brisa ou barato), risos espontâneos sem motivos e fome (larica); pode haver também distorções da recuperação do tempo e do espaço, de leves a moderadas, dificuldade na atenção e na concentração, sensação de que os sentidos estão aguçados, hiperemia da mucosa conjuntival (olhos vermelhos) e boca seca.

A intoxicação por uso de maconha pode levar muitos indivíduos à psicose aguda e produzir exacerbações de curto prazo de doenças psicóticas preexistentes, como a esquizofrenia. Sintomas psiquiátricos observados em alguns estudos incluem despersonalização, medo de morrer, pânico irracional e ideias paranoicas. Os efeitos adversos comuns ao uso da erva além da dependência e da intoxicação aguda, incluem déficit na aprendizagem, risco de acidentes automobilísticos e com vítimas fatais, disfunção respiratória, eventos cardiovasculares, complicações na gravidez, e uma gama de efeitos à saúde. [1]

Opinião dos psiquiatras Dr. Claudio Jerônimo e Dr. Quirino Cordeiro

O psiquiatra Dr. Claudio Jerônimo diretor da Unidade Recomeço Helvétia falou para o site Obid (Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas) sobre as principais doenças associadas ao uso da maconha:

A Síndrome de Dependência em si, representa um grande problema. O estreitamento do repertório é um dos problemas relacionados à dependência. Trata-se de uma diminuição do campo vivencial: a pessoa estreita o seu comportamento em torno do uso, da recuperação do uso e da busca pela droga. Começa a priorizar relações pessoais e sociais que estejam relacionadas ao uso da maconha e deixa de realizar outras atividades. Portanto, a dependência, em si, limita e traz sofrimento.

Jerônimo alertou também que outras doenças mentais, entretanto, estão estreitamente relacionadas ao uso de maconha. Depressão é bastante frequente. Estudos consistentes que seguiram milhares de usuários de maconha apontam que a frequência de depressão é três vezes maior entre usuários de maconha frequentes. Há que citar ainda os efeitos adversos que não se encaixam em nenhuma síndrome, mas estão soberbamente demonstrados na literatura científica, como prejuízos cognitivos agudos, síndrome hiperemese cannabica (vômitos incessantes), sintoma, aliás, que levou ao aumento na procura por Serviços de emergência dos Estados Americanos que legalizaram a droga. [2]

O psiquiatra Dr. Quirino Cordeiro Secretário Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas, em entrevista ao site Meio Norte falou sobre os perigos da maconha:

A minha posição é a do Governo Federal, frontalmente contrário à liberação das drogas, inclusive da maconha. Existe, nos últimos tempos, uma ideia de flexibilizar o uso de maconha e isso tem causado na sociedade uma diminuição da percepção de risco que essa droga, a maconha traz. A maconha é um fator de risco importante para o quadro de psiquiátricos graves como psicoses, quadro de esquizofrenia e problemas cognitivos. É uma droga extremamente danosa para as pessoas e não pode ser liberada. As experiências internacionais de país que liberaram as drogas, têm mostrado o aumento do consumo. Hoje em dia, nós temos problemas com as drogas e não podemos aumentar esses problemas por conta de sua liberação. [3]

Maconha inofensiva?

Há evidências de que o uso precoce da maconha pode estar relacionado com maior probabilidade de uso crônico, uso abusivo e dependência, além de efeitos sistêmicos, portanto não se trata de uma droga inofensiva, como tem sido divulgado. As drogas de abuso, como a maconha, afetam importantes circuitos cerebrais envolvidos no processo de aprendizagem e memória, recompensa, tomada de decisão e no controle dos impulsos e comportamentos, todos envolvidos no processo de amadurecimento, etapa que finaliza a adolescência e descerra a cortina para o início da idade adulta. [1]

O uso regular da erva durante a adolescência e nos anos adultos emergentes pode perturbar a função cerebral e resultar em mau funcionamento cognitivo. Mesmo reduções sutis na atenção sustentada, no aprendizado, na velocidade psicomotora e no funcionamento executivo podem resultar em consequências psicossociais significativas durante o período de desenvolvimento neurológico.

A descriminalização do uso, sob todos os aspectos, produzirá enormes prejuízos a todos e vai agravar a situação atual. Se a maconha for descriminalizada, as pessoas poderão portar a substância psicoativa, mas comprarão onde? Isso precisa ser pensado. Se não for crime usar, as pessoas vão andar com droga à vontade e haverá aumento da circulação de drogas, ou seja, o tráfico será favorecido.

É fundamental realizar programas de prevenção que possam evitar ou retardar o início do consumo regular de maconha.

*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).

Referências:

[1] https://www.uniad.org.br/livros-recomendados/cartilha-expoe-os-efeitos-do-uso-recreacional-e-medicinal-da-cannabis/
[2] http://mds.gov.br/obid/entrevistas/claudio-jeronimo-da-silva
[3] https://www.meionorte.com/blogs/efremribeiro/secretario-de-prevencao-as-drogas-diz-que-a-maconha-e-danosa-331722


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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