23 de novembro de 2024

Precisamos falar sobre a maconha

25 de junho de 20193min50
Cheyenne Fox

A proposta aprovada pela Anvisa de legalizar o cultivo de cannabis sativa para fins medicinais precisa estar embasada em uma ampla discussão sobre os efeitos reais da planta para a saúde.

A Agência Na cional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, aprovou recentemente duas propostas que podem legalizar o cultivo de cannabis sativa para fins medicinais. Ainda haverá consultas públicas para a medida entrar ou não em vigor. Mas é urgente a discussão ampla sobre o assunto. Desde Hipócrates, médicos juram primeiro não fazer mal (“Primum non nocere”). Após a tragédia da talidomida, nos anos 1960, órgãos reguladores (FDA, European Medicines Agency e seus congêneres, como a própria Anvisa) priorizam a proteção das populações contra os efeitos danosos dos medicamentos. É missão das profissões de saúde prevenir e tratar doenças, identificar riscos dos tratamentos e informar se podem reverter seus efeitos adversos. Cabe saber se um novo tratamento é tão eficaz ou melhor que os já existentes e se seus efeitos nocivos são toleráveis e reversíveis. Ao final, o registro de novos medicamentos depende de decisões políticas, sujeitas a interesses diversos.

Em vez de prevenção de danos, estamos expostos à mais ampla promoção do uso de substâncias psicoativas da história. O caso da cannabis é exemplar: ao contrário do que se ouve, ela pode fazer mais mal do que o álcool ou o tabaco, embora de forma diferente. A identificação de alguns princípios ativos como o tetraidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) e a descoberta do “sistema  endocanabinóide”, cujas funções são pouco conhecidas, despertaram o interesse médico-científico e uma corrida por grandes ganhos financeiros. A planta tem sido modificada e suas formas de administração não correspondem aos modos utilizados desde a antiguidade. O consumo da “super-maconha” (“skunk”, com alto teor de THC) na Europa, América do Norte, Oceania e Uruguai e o uso do THC puro e de canabinóides sintéticos por meio de dispositivos eletrônicos, vaporizadores e alimentos, tem levado a toxicidade cada vez maior.

Artigo: Precisamos falar sobre a maconha

Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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