FÁCIL E DIFÍCIL
“Conta-se que existia um grande professor chamado Buso, que era casado e tinha uma filha. Todos da família eram conhecidos por sua grande sabedoria e santidade. Um dia, um homem aproximou-se do professor e perguntou: ‘A iluminação é fácil ou difícil?’ E Buso respondeu: ‘É tão difícil quando chegar à Lua’. Inconformado, o homem foi falar com a mulher de Buso e lhe fez a mesma pergunta. Ela respondeu: ´É muito fácil. Tão fácil quanto tomar um copo d´água’. O homem ficou intrigado e, para livrar-se das dúvidas, fez a mesma pergunta à filha do professor, que lhe respondeu: ´Ora, se o senhor torna as coisas difíceis, é difícil, mas se facilita tudo…’”
Difícil mesmo é a capacidade de ver, isto é, de ver com simplicidade, com sinceridade, sem nos enganar porque ver significa mudar, ficar sem nada a que se agarrar. E nós estamos acostumados a procurar apoio, a andar com muletas. Quando chegamos a ver com clareza, temos de voar. E voar significa nada temer, andar sem se agarrar a coisa alguma. Precisamos desmontar a tenda em que nos refugiamos e continuar pelo caminho que está adiante de nós, sem procurar apoio.
A primeira coisa que devemos entender é que as pessoas que nos recorrem não procuram a cura, mas o alívio; elas não querem mudar, porque a mudança nos expõe e compromete.
É como aquele que estava mergulhando em uma fossa, com sujeira até a altura do queixo, cuja única preocupação era que ninguém aparecesse para fazer ondas, não se importando em ser ou não tirado dali. O problema, portanto, é que a grande maioria das pessoas compara a felicidade com a conquista dos objetos que desejam, quando, ao contrário, a felicidade reside precisamente na ausência dos desejos, e no fato de pessoa alguma ter poder sobre nós.
Buda fala que desejos causam sofrimentos. Santo Inácio de Loyola fala que desapego dá felicidade.
PARA REFLETIR
O Bispo estava fazendo uma visita pastoral em algumas ilhas da diocese. Encontrou três pescadores e perguntou se eles sabiam rezar. Um deles respondeu:
– Senhor Bispo, somos analfabetos, por isso rezamos apenas dizendo: “Somos três. Vós sois três. Tende misericórdia de todos nós”.
– Horrorizado, o Bispo gastou todo o dia para ensinar os três pescadores a rezar o Pai-Nosso. Um ano mais tarde o Bispo voltou às ilhas e, passando, ouviu um grito. Eram eles, os três pescadores, que se aproximaram e disseram:
– Senhor Bispo, esquecemos aquela prece bonita. Dá para o senhor ensinar novamente? Humilhado, o Bispo respondeu:
– Amigos, esqueçam. Voltem em paz e continuem rezando como sabem: Somos três, vós sois três. Tente misericórdia de todos nós”.
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