DEUS É O AUTOR
23 de janeiro de 20185min19
Pé. Haroldo
Vemos o projeto salvífico de Deus. Ele quer a salvação de todos os homens (1Tm 2, 4). Revela-se a eles como o Deus salvador. Salva-os, revelando o mais profundo de seu ser. Nesse projeto a humanidade é chamada a ser povo de Deus.
Um povo é chamado a ir manifestando e vivendo por meio de sua experiência esse desígnio salvífico, cujo destino é universal. De dentro desse povo, Deus escolhe uma mulher – Maria – que é convidada a ser mãe de seu próprio Filho. Este leva tal plano salvífico à sua plenitude. Uma comunidade que ele chama e o acolhe vive essa experiência de plenitude salvífica. Deus Pai a quis como uma comunidade, sinal e instrumento de salvação.
Ao querê-la assim, Deus quis também os elementos fundamentais para a sua constituição. A Escritura, como regra de sua fé e vida, está incluída nesse desígnio, ao escolher um povo e comunidade que conheciam a escrita. Suscita homens dessa comunidade pelo carisma da inspiração para que consignem por escrito essa experiência em livros. Estes, lidos em uma unidade com os do povo de Israel, constituem uma totalidade. E a comunidade que escreveu tais livros reconhece neles sua fé e os assume como livros normativos dessa fé. Doravante eles serão para as gerações seguintes norma de fé e vida.
Os livros sagrados, a Inspiração que levou redatores a consignar por escrito a revelação no fundo, realizações concretas do projeto salvífico de Deus, que passa pela colaboração dos homens e também sofre de suas limitações. A última garantia da verdade de todo esse processo é a presença atuante de Deus Pai pela ação do Filho e do Espírito Santo. Fora do horizonte da salvação oferecida a toda humanidade e significada pela Comunidade, não se entendem nem a Escritura, nem a Inspiração.
Ao referir-se aos dados da realidade, a exegese latino-americana entende-a sempre na perspectiva da libertação dos pobres e ajudar os ricos que servem aos necessitados. É no contexto popular das comunidades eclesiais empenhadas na luta de libertação, que floresce essa leitura militante da Bíblia.
Interpretamos a inspiração no horizonte da Palavra transcendente de Deus que encontra na Escritura uma objetivação categorial. Essa palavra transcendente é interpretada como inspiração transcendente que se categorializa na inspiração literária. Deus é o autor do impulso que leva o homem a reagir literalmente diante dessa iniciativa de Deus. O homem responde, em sua fragilidade e também abertura, a essa proposta transcendental de Deus, traduzindo-a em escritos. Sagrados, porque encontram sua origem nessa ação de Deus. Humanos, porque são tematizações feitas por seres humanos, dentro das condições históricas.
PARA REFLETIR
A ação inspiradora de Deus afeta o autor em sua tarefa redacional, que implica a escolha do material, a intuição e a execução. Ora, como a intuição é o momento fundamental, é sobre ele e sua execução que a inspiração exerce sua maior função. A escolha do material não cai necessariamente sob a influência da inspiração. De todas as maneiras, Deus é o autor.
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