Qual profissional deve cuidar da saúde mental do meu filho?
Revista Veja
Blog Letra de Médico
Por Luis Augsto Rohde
Médica conversa com uma criança em seu consultório (IStock/Getty Images)
Com a colaboração de: Maria Lucrécia Zavaschi, professora aposentada de psiquiatria da infância e adolescência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente da Associação Psicanalítica de Porto Alegre; e de Guilherme Polanczyk, professor livre docente de psiquiatria da infância e adolescência da Universidade de São Paulo (USP).
Ô perguntinha difícil! Nas conferências que faço pelo Brasil afora para pais e professores sobre transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e outros problemas de saúde mental de crianças e adolescentes, essa questão é uma das mais frequentes. O pediatra pode avaliar e tratar essas condições? Procuro um neuropediatra, psicólogo ou psiquiatra da infância e adolescência?
Indicação em primeiro lugar?
Dados de pesquisa nos Estados Unidos indicam que a escolha de um médico se dá ainda pelo conhecido método de boca a boca, mesmo nos dias atuais onde, para quase tudo, as pessoas fazem uma vasta pesquisa na web. Ainda que a escolha de um profissional possa estar restrita àqueles que são parte do convênio do paciente, a indicação de familiares ou amigos, em primeiro lugar, e a indicação de outro médico, em segundo lugar, deixam a escolha por dados do profissional disponíveis na web a léguas de distância.
Temos que convir que esse não parece ser um método muito criterioso de escolha; o que é bom para o filho de um amigo pode não ser o melhor para o nosso! A opinião de um médico sobre o outro nem sempre está baseada no conhecimento das habilidades clínicas do colega.
Soma-se a isso um outro aspecto. Essa é uma área onde há espaço não auditado para qualquer intervenção e muitos profissionais julgam possuir a verdade, sem apresentar os prós e contras das suas orientações, numa postura muito longe de científica.
Cada profissional irá abordar o problema de uma maneira
Costumo usar um exemplo com meus alunos de pós-graduação. Vamos pensar no caso de um menino de 7 anos com enurese noturna primária (i.e., faz xixi na cama desde sempre), morando com ambos os pais que têm um casamento instável e com uma irmã de 4 anos. Se os pais preocupados com o problema levarem a criança para um pediatra, neuropediatra ou psiquiatra estritamente biologicamente orientado, muito provavelmente irão sair da consulta com uma receita de uma entre três medicações (imipramina, DDAVP, oxibutinina).