Dependência Química fator de risco para o suicídio

20 de setembro de 201722min13
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“As pessoas não querem se matar, elas querem evitar a dor. O que move as pessoas nessa direção não é a morte, mas a própria vida, não suportar viver, com sofrimento e dor”

*Por Adriana Moraes
 
Suicídio – uma palavra incômoda. Cercado por uma dor extremamente silenciosa, neste mês de prevenção ao suicídio “setembro amarelo” vamos falar novamente sobre o tema. O assunto é sério e merece muita reflexão!
 
Há momentos em que a vida se torna um fardo e muitos de nós perdemos a coragem de seguir em frente. Essa experiência é mais comum do que se imagina, embora ninguém goste muito de falar a respeito, ou não tenha com quem compartilhar seus momentos difíceis. São muitos os caminhos que levam ao suicídio. Tragicamente, a sociedade ignora a gravidade da situação e a urgência de algumas medidas que poderiam atenuar esse problema, considerado de saúde pública no Brasil e no mundo. [1]
 
Dependência química
 
A dependência química caracteriza-se por um padrão de consumo compulsivo da substância psicoativa, estando presente pelo menos três dos sete critérios diagnósticos elaborados por Edward e colaboradores. [2]

– Compulsão para o consumo;

– Aumento da tolerância;

– Síndrome de abstinência;          

– Alivio ou evitação da abstinência pelo aumento do consumo;

– Relevância do consumo;

– Estreitamento ou empobrecimento do repertório;

– Reinstalação da síndrome de dependência.

  
Suicídio e Transtornos Mentais
 
Em uma análise de 15.629 casos de suicídios, 22,4% ocorreram devido os transtornos causados pelo uso de substâncias psicoativas. [3]
 
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Vejamos a opinião de 02 renomados psiquiatras falando sobre possíveis sinais que a pessoa costuma dar, antes de tentar o suicídio:
 
 
**Dr. Hamer Palhares 
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Geralmente a pessoa que pensa em tirar sua vida costuma dar sinais?
Dr. Hamer explicou que muitas vezes, a pessoa dá sinais, faz comunicações indiretas, diz que a vida não faz mais sentido, pode falar abertamente em morrer, ou simplesmente acertar todas as contas, deixar “tudo certo” para não dar trabalho para a família. Pode demonstrar sinais de desespero e desesperança, pessimismo. Por isto é importante estar atento para detectar sinais sugestivos de ideação suicida.
Cabe uma distinção: podemos prevenir, mas não predizer. Ou seja, podemos usar de nossos conhecimentos para auxiliar a diminuir as chances de que a tentativa de suicídio ocorra, mas não somos bons em predizer quem é que vai tentar suicídio ou não.
As melhores evidências apontam para as seguintes estratégias no sentido de evitar que uma tentativa ocorra: tratar a psicopatologia de base (depressão, transtorno bipolar, transtorno psicótico, dependência de substâncias) e retirar o acesso a meios altamente letais (armas de fogo, cordas, alturas, veículos). 
Álcool e drogas – incluindo o tabaco – aumentam o risco de tentativa de suicídio – para cada droga consumida, o risco parece dobrar.
As drogas podem exercer este efeito de diferentes maneiras: pioram a adesão e a resposta terapêutica dos medicamentos e da psicoterapia, aumentam a impulsividade e podem piorar os sintomas depressivos, a sensação de culpa, menos valia e desesperança.
 
Assim, é fundamental restringir o consumo de todas as drogas entre pessoas que contemplem por fim à vida. Isto facilitará o diagnóstico preciso, a adesão correta ao tratamento farmacológico e psicoterapêutico e a resposta mais rápida da condição de base. Ao mesmo tempo, facilitará as mudanças de estilo de vida necessárias para melhor enfrentamento dos desafios da vida e para reencontrar o caminho para uma rotina mais significativa e recompensadora. Para melhorar as chances de sucesso, é fundamental engajar a família no tratamento. [4]
 
 
***Dr. Antônio Geraldo da Silva
 
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Quem quer se suicidar não fala? 
 
Dizer que quem quer se suicidar não fala sobre é um dos maiores mitos que temos relacionado ao assunto. A maioria dos suicidas fala ou dá sinais sobre as suas ideias. Os dois principais sinais aos quais devemos ficar alerta são a tentativa prévia de suicídio e a presença de doença mental, como transtorno bipolar, depressão e transtornos ansiosos. 50% dos que morreram por suicídio já haviam tentado anteriormente e mais de 90% dos casos tem relação com alguma doença mental, diagnosticada ou não, frequentemente não tratada ou tratada inadequadamente.
 
Comportamentos desesperançosos ou de desespero também precisam ser observados. Falas como “não aguento mais/queria sumir”, ou ainda, “o mundo/minha família vai ficar melhor sem mim” são extremamente preocupantes, principalmente se aliadas a isolamento social, indícios de “pôr os negócios em ordem”. A súbita melhora de quadros depressivos também é sinal de alerta, visto que a decisão do suicídio já pode ter sido tomada. 
 
Finalizo, com um trecho do Livro Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo: “No fundo, as pessoas não querem se matar, elas querem evitar a dor. O que move as pessoas nessa direção não é a morte, mas a própria vida, não suportar viver, com sofrimento e dor”
 
*Adriana Moraes – Psicóloga da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) – Especialista em Dependência Química – Colaboradora do site da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas).
 
**Dr. Hamer Palhares –Médico Psiquiatra – Doutor em Ciências – Pesquisador da UNIAD – Professor do Curso de Especialização em Dependência Química modalidade virtual UNIAD UNIFESP.
 
***Dr. Antonio Geraldo da Silva – Médico Psiquiatra – Diretor Tesoureiro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) e Presidente Eleito da APAL (Associação Psiquiátrica da América Latina).
Referências:
                                                        
[1] Trigueiro, André, 1966 – Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo/André Trigueiro – São Bernardo do Campo. SP: Correio Fraterno, 2015. 
 
[2] O tratamento da dependência química e as terapias cognitivo-comportamentais: um guia para terapeutas/ Organizadores, Neide A. Zanelatto, Ronaldo Laranjeira – Porto Alegre: Artmed, 2013.
 
 

 


Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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