Uso de bebidas alcoólicas e outras drogas nas rodovias brasileiras

5 de setembro de 20185min4
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A relação entre uso de álcool e acidentes de trânsito é bastante conhecida e já claramente estabelecida na literatura científica. Dados da OMS apontam que aproximadamente 1,2 milhão de pessoas morrem no mundo em conseqüência de acidentes de trânsito. Os acidentes de trânsito com vítimas também são responsáveis por alto impacto econômico no Brasil. Um acidente com vítima custa 11 vezes mais do que um acidente sem vítimas, podendo custar 44 vezes mais se houver morte. Apesar do significativo número de acidentes de trânsito associados ao consumo de álcool na literatura internacional, poucos estudos avaliaram a prevalência desse consumo em motoristas brasileiros.

Em atenção à esta demanda, o Estudo “Impacto do uso de bebidas alcoólicas e outras substâncias no trânsito brasileiro” foi desenvolvido pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (SENAD/ GSIPR), em parceria com o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI/MJ), o Departamento de Polícia Federal (DPF) e o Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF/MJ), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (ANVISA/MS) e o Departamento Nacional de Trânsito do Ministério das Cidades (DENATRAN/ MCIDADES) e realizado pelo Núcleo de Estudos em Pesquisa em Trânsito e Álcool do Hospital de Clínicas de Porto Alegre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NEPTA/UFRGS).

Foram realizadas entrevistas, entre os anos de 2008 e 2009, nas rodovias federais das 27 capitais brasileiras, abrangendo motoristas de carros, motos, ônibus e caminhões – particulares e profissionais – e, na cidade de Porto Alegre no Estado do Rio Grande do Sul, abrangendo motoboys, vítimas de acidentes de trânsito, condutores de veículos frequentadores de bares e restaurantes e amostras da população de não condutores, totalizando, assim, oito mil entrevistas.

Os resultados do estudo destacam a baixa prevalência de alcoolemias positivas entre os motoristas brasileiros abordados em rodovias nas sextas-feiras e sábados – 4,8 %; estas taxas são maiores à noite nas rodovias (7,3% após as 20h vs 3,3% antes das 20h); 25% dos motoristas entrevistados referiram ter consumido cinco ou mais doses de bebidas alcóolicas (beber pesado episódico – binge drinking) entre duas e oito vezes no último mês; A associação entre acidentes e alcoolemia positiva é muito mais frequente na zona urbana da cidade de Porto Alegre quando comparada às rodovias federais; 32% das vítimas fatais de acidentes de trânsito necropsiadas apresentaram presença de álcool no sangue, com concentração nas faixas etárias jovens e mais produtivas; 51% dos motoristas abordados em bares da cidade de Porto Alegre afirmaram dirigir após consumir bebidas alcóolicas; 44% desses mesmos motoristas referiram ter adotado mudanças após a implementação da “Lei Seca”; 75% dos motoboys entrevistados em Porto Alegre tinham ao menos um diagnóstico psiquiátrico e 54% apresentavam dois diagnósticos (uso de álcool:43,6%, uso de cannabis 39,6%, uso de cocaína 32,7%, transtorno de humor 31,7%, transtornos de conduta 28,7%), prevalências mais altas do que outros estudos internacionais

Flavio Pechansky; Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte; Raquel Brandini De Boni

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Sobre a UNIAD

A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn, recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários dependentes.



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